"João Sem Deus - A Queda de Abadiânia", nova série dirigida por Marina Person, terá première mundial em um dos maiores encontros da indústria audiovisual ibero-americana, o Iberseries & Platino Indústria. É a primeira vez que o evento seleciona produções brasileiras para serem exibidas. As atividades acontecem em Madri, de 3 a 6 de outubro. Com o apoio do Projeto Paradiso, a diretora e a produtora Paula Cosenza estarão presentes no evento espanhol. A séria se destaca como a primeira série de coprodução internacional independente entre Brasil e Portugal, trabalho assinado pela Ventre Studio, Canal Brasil, Coral Europa e TVI.
A narrativa ficcional, inspirada em eventos reais, foi escrita por Patrícia Corso e Leonardo Moreira, com a colaboração de Giuliano Cedroni e Luiz Filipe Nóe. Estrelada por Marco Nanini, Bianca Comparato, Karine Teles, Antonio Saboia, e as atrizes portuguesas Ana Sofia Martins e Dalila Carmo, a produção estreia no Canal Brasil dia 13 de outubro e os episódios ficam disponíveis no Globoplay na mesma data.
A série conta a história de duas irmãs que chegaram em Abadiânia 17 anos antes da prisão de João de Deus. Uma delas fica traumatizada com os abusos e violações sofridas, enquanto a outra vira uma fiel funcionária do médium. A trama se desenrola durante o reencontro das duas, que culmina em um surpreendente plot twist.
"As três protagonistas representam as mulheres reais que começaram o escândalo: Carmem representa a fé nos poderes de cura de João de Deus, Cecília representa as vítimas de abuso e Ariane (filha da Carmem) faz o papel de uma menina que só percebe que foi abusada após a fala de outras mulheres", explica Marina Person.
Nanini é o antagonista da trama: "O convite me fez mergulhar na história que inspira a série. Foi um grande desafio interpretar essa personagem, mas o roteiro excelente, uma diretora talentosa, uma produção cuidadosa e um grupo de atores que admiro", afirma o ator.
Bianca Comparato vive Carmem, a irmã que acredita nos poderes do médium: "O que me atraiu nesse projeto foi a abordagem para contar a história da queda de João de Deus, mas pela perspectiva feminina. Até o começo da série, a minha personagem, está cega em relação aos relatos de abusos, mas, aos poucos, vai entendendo o monstro que está ao seu lado. Ela chega a se perguntar a quem ela foi devota por todo esse tempo, a Deus ou ao Diabo".
Karine Teles interpreta Cecília, a irmã que sofre abuso sexual: "Precisamos falar sobre abuso de poder, mentiras e ganância, mais do que nunca. Essa história é próxima da gente aqui no Brasil, mas é tristemente universal. Aceitei participar desse projeto delicado e difícil porque acredito no poder restaurador da arte. Espero que chegue nas pessoas e provoque reflexões".
Antonio Saboia também compõe o elenco, na pele de Lindinho, braço direito do médium. "O projeto me seduziu por ter um roteiro forte sobre a escuridão dos nossos falsos profetas. Lindinho é um papel totalmente diferente do que já fiz antes, foi um desafio e tanto".
A produção de "João Sem Deus - A Queda de Abadiânia" tem predominância feminina na equipe, principalmente nas posições de liderança, nas quais as decisões criativas e executivas foram tomadas por mulheres. Além da direção de Marina Person, também se destacam por trás das câmeras a direção de fotografia, assinada por Janice D'Avila, e a direção de arte, por Fernanda Carlucci. O projeto também contou com o acompanhamento da Bem Querer Mulher, iniciativa de acolhimento integral a mulheres que sofrem violência no Brasil, para a leitura sensível dos roteiros e apoio presencial no set durante as filmagens das cenas mais delicadas.
"Sou sobrevivente de abuso sexual, então esse tema me toca muito. Tivemos um cuidado e sensibilidade enormes na sala de roteiro por se tratar de vidas reais dessas mulheres, traumas que ainda não cicatrizaram para elas. Um desafio grande foi ter empatia com as mulheres que estavam ao lado do João, trabalhando dentro da Casa. Mas sempre acreditamos que o ponto de vista delas merecia ser contado e honrado. Elas também foram vítimas em muitos níveis", pontua Patricia Corso, roteirista e criadora da série.
"A trama nunca é contada sob o ponto de vista do abusador, mas das sobreviventes que enfrentaram a rede de proteção e o silenciamento que permitiu que esses abusos continuassem por tanto tempo. É uma história, infelizmente, ainda muito relevante no Brasil - tanto pela perigosa associação entre fé e política, quanto pela cada vez mais frequente utilização de discursos morais e religiosos para acobertar estupros, misoginia, usurpação financeira e exploração sexual", afirma Leo Moreira, cocriador da série.