Paulo-Roberto Andel: A alma aflita das ruas

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Há motivos para o que se considera uma produção literária frenética de minha parte, com 40 livros em 13 anos. O principal deles foi a morte repentina dos meus pais, que me levou a mergulhar vertiginosamente para tentar ocupar a cabeça - e não adiantou nada. Em menor escala, minha vontade de ser publicado desde os anos 1990, o que acabou acontecendo somente em 2010. Também conta o fato de poder produzir meus próprios livros, sem os vícios preconceituosos que costumam povoar a mente de boa parte dos editores.

Agora, um grande motivo para essa correria desenfreada foi o medo da morte. Não exatamente o medo, porque ela é inevitável, mas o medo de morrer sem ter escrito um conjunto de livros que considerasse razoável. O medo de que não desse tempo. Hoje ainda me falta muita coisa, claro, mas era inimaginável o número de 40 há 13 anos e ele foi alcançado. Alguns venderam milhares de cópias, outros venderam centenas e provavelmente os melhores não venderam nada, mas tudo bem - o autor quer ser lido mas não faz um pacto de plateia antes de escrever. Só lamento que meu trabalho como autor "carioca" fique à margem do trajeto no futebol - do qual me orgulho muito mas não não sou 100% dependente. Ele existe e pode ser lido há anos no Correio da Manhã e no meu blog, Otraspalabras.

Vivi e vivo com medo. Sempre foi assim, havia e há muito sofrimento. Por muitos motivos, achava que minha vida seria curtíssima - e quase foi mesmo -, o que se acentuou quando alguns colegas morreram jovens. Então acabei chegando aos 55 anos, que para muitos ainda é uma réstia de juventude nos tempos modernos, mas me tem pesado com enorme cansaço. A luta pela sobrevivência, a sensação da velocidade do tempo, as perdas e danos mais a certeza da ruindade da maioria dos humanos aumentam a fadiga. Só que eu não paro, nem sei por que motivo. Então continuo escrevendo e produzindo livros de terceiros, enquanto sigo cumprindo minha pena por aqui - nada que se compare às verdadeiras penas aplicadas em presídios, mas também longe de ser fácil.

Meu novo livro se chama "A Alma Aflita das Ruas" e é uma brincadeira com o craque João do Rio, inspirada em meu amigo Luiz Carlos Lacerda - poeta e cineasta. Obviamente não cabe comparação: João foi o maior cronista de seu tempo, inaugurou a ABL e seu talento venceu as décadas. O que faço é tentar registrar alguns cenários do Centro do Rio para que, no futuro, alguém os ache numa garrafa que atirei no mar da internet. "Alma" é um livro de humanidade, de minha incapacidade em desprezar o próximo, e está alinhado com todos aqueles que veem o Rio de Janeiro com amor mas sem hipocrisia, entendendo a verdadeira tragédia que nos cerca há anos. Um livro sobre a opressão, naturalizada pelo neoliberalismo e tolerada por certa esquerda cheia de discurso, mas pouca ação prática.

Os interessados em "A alma aflita das ruas" podem encomendá-lo pelo WhatsApp (21) 99634-8756. Venderá pouco e é para poucos mesmo - os que nele acreditam. Nenhum problema para quem não acreditar: a recusa e o desprezo fazem parte do jogo literário. Porém, até segunda ordem, não há mau resultado financeiro que me faça parar de escrever. É uma causa e, como disse Borges, "aos verdadeiros cavalheiros só interessam as causas perdidas.