Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

TV Globo exibe 'Monster Hunter', com Nanda Costa no elenco

Milla Jovovich é a heroína que encara monstros da areia em 'Monster Hunter',baseado no game homônimo, e que tem a brasileira Nanda Costa (acima) em seu elenco | Foto: Divulgação

Tem filme baseado em jogos eletrônicos na tela da TV Globo desta quarta à noite, naquele sagrado horário do futebol (22h25, depois da novela das nove), com força para arrebatar toda a claque de espectadores fiéis da emissora: "Monster Hunter" (2020). A aventura estrelada por Milla Jovovich (de "O Quinto Elemento") não foi escolhida por acaso.

Sua presença no maior canal de televisão aberta do país assinala um movimento global de transformação das formas de recepção das produções audiovisuais. Basta olhar o que vivemos no ano que acabou há bem pouco... Já disponível na HBO MAX, "Barbie", o filme recordista em indicações ao Globo de Ouro, a ser entregue neste domingo, é muita coisa (sobretudo um tratado antissexista), mas não perde de foco que sua gênese é um brinquedo. Foi o maior sucesso de bilheteria de 2023, com US$ 1,4 bilhão em arrecadação, seguido por "Super Mario Bros.", animação que fechou a carreira em circuito com US$ 1,3 bilhão - e é, antes de tudo, a transposição de um videogame. O sucesso de ambos, circundado pelo fracasso recorrente das narrativas de super-heróis ("Aquaman 2" se afoga em circuito, para citar um exemplo), aponta que o caminho para a alegria dos exibidores está na transposição de brinquedos e jogos pro cinema. Não por acaso, vem por aí um filme baseado nos carrinhos Hot Wheels.

Orçada em cerca de US$ 60 milhões, gastos em sets de filmagem na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2018, a versão para as telas do game "Monster Hunter", criado para PlayStation em 2004, só chegou ao Brasil em fevereiro de 2021. À época, a presença da atriz brasileira Nanda Costa no elenco atraiu holofotes para o longa, mas seu principal chamariz é a ucraniana Milica Bogdanovna Jovovich.

O IMDB, o mais confiável dos bancos de dados de cinema, diz que seu nome de nascença é Militza. Mas para os brasileiros ela "nasceu" em 1997, ao longo de uma reportagem do "Fantástico" sobre o já citado "O Quinto Elemento", de Luc Besson, onde a personagem dela ajudava Bruce Willis a salvar o universo.

Sua carreira não parou desde então. Este ano ela será vista em "In the Lost Lands", ao lado de Dave Bautista, interpretando uma bruxa que liberta uma maldição de licantropia capaz de verter pessoas comuns em lobisomens - só que para o Bem. Será vista ainda em "Breathe", uma ficção científica de Stefon Bristol sobre um futuro em que o oxigênio escasseou na Terra.

Antes de ter tantos projetos pra telona, Milla, hoje com 48 anos, era modelo. Contudo, já havia feito muitos bons trabalhos como atriz, como o açucarado "De Volta À Lagoa Azul" (1991) e o genial "Jovens, Loucos e Confusos" (1993), de Richard Linklater. Mas foi com Besson que ela explodiu e virou estrela, engatando um romance com o cineasta e produtor francês que durou até 2000. Antes, eles fizeram o épico histórico "Joana D'Arc" (1999), pop até a medula, com Dustin Hoffman, Faye Dunaway e John Malkovich no elenco, que criou controvérsia à sua época, mas cuja potência visual se impõe até hoje. Depois, ela contracenou com Mel Gibson em "O Hotel de Um Milhão de Dólares", que deu o Prêmio do Júri a Wim Wenders na Berlinale de 2000. Dois anos depois, ela emplacou a franquia que consagrou definitivamente seu nome como um ímã de espectadores e um sinônimo de filme de ação gourmet: "Resident Evil" (2002). Fez mais cinco longas-metragens dessa franquia baseada em games campeões de vendas. O primeiro era pilotado por Paul W.S. Anderson, realizador inglês que despontou na década de 1990 como um artesão na seara da fantasia regada a pancada com "Mortal Kombat" (1995), o cult "O Enigma do Horizonte" (1997) e o esquecido "O Soldado do Futuro" (1998), com Kurt Russell - que merecia uma descoberta. Em 2009, eles se casaram. Os dois criaram uma simbiose rara nas telas, lapidando em Milla uma persona guerreira, talvez a mais humanizada entre todas as heroínas reveladas por Hollywood dos anos 2000 para cá.

Em "Monster Hunter", dublada no Brasil por Sílvia Goiabeira, ela encarna a capitã Natalie Artemis. Durante uma operação, a oficial é engolida por uma onda elétrica que funciona como um portal para uma dimensão paralela, infestada de monstros da areia, os Diablos, e por criaturas aladas mais selvagens ainda, como o demoníaco Rathalos. Entre os poucos pobres diabos que encaram esses monstros está o arqueiro chamado Caçador (Tony Jaa, que rouba todas as cenas) e um velho almirante (Ron Perlman), que tem entre suas aliadas uma sobrevivente vivida por Nanda Costa. Eles têm um gato humanoide também. Juntos eles vão combater os perigos mortais daquele arremedo de mundo.

É diversão garantida para a noite do Plim Plim.