Paulo-Roberto Andel: Não durmo direito
Não durmo direito. Eu não durmo direito há muito tempo. Nem sei dizer quando foi a última vez. Há muitos motivos para isso, mas não vou falar deles agora. A única coisa certa é que passo os dias com dor e cansado há anos. Não tenho uma noite de sono tranquilo em paz e não há a menor expectativa de que isso se estabilize em breve. É uma derrota.
Ao contrário do que pensam, o Fluminense não me tira o sono. Mal acabou de ganhar ou perder, eu não gasto tempo me vangloriando nem me martirizando. Penso sempre no próximo jogo e, apesar de estar cansado, agora só tem futebol pra lá de janeiro, então os dias são mais difíceis.
Acaba o ano, não tenho hoje a menor saída para uma série de problemas e talvez o pior de tudo: se alguma coisa ruim me acontecesse agora, quem me acudiria? Provavelmente ninguém. passei a vida inteira ajudando as outras pessoas mas raramente fui ajudado, muito raramente. Parece a sensação de estar numa estrada dirigindo com os quatro pneus gastos e sem estepe. bem difícil.
Não é pra me vangloriar, até porque isso é inútil, mas não são nem seis da manhã e estou pensando: ouvi muito mais do que fui ouvido, ajudei muito mais do que fui ajudado, passei a bola muito mais do que recebi. Dá uma sensação de tempo perdido, ainda mais quando chega essa época de hipocrisia da paz, da família, do final de ano. Todo mundo sabe que a solidão e o sofrimento estão por toda parte. Falam de paz e bombardeiam crianças em hospitais, enquanto aqui perto milhões de crianças pedem esmolas e passam fome.
Quem me acudiria? ninguém. Mesmo quem pudesse. A verdade é que muitos seres humanos não estão nem aí para ninguém e, por isso, estamos desse jeito aí.
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Pra mim, Paola Oliveira sempre foi uma das mulheres mais bonitas do Brasil, além de ótima atriz. Vê-la sendo xingada e atacada na internet é a demonstração da selvageria e da idade da pedra que hoje vivemos.
Este é o grande tribunal. Com o dedo em riste, decidimos quem é bom e quem é mau. Quem deve viver e quem deve morrer. A vingança deve estar acima da justiça.
Viva a moral e a ética, o caráter e o respeito! Viva a conduta ilibada dessa gente de bem! Primeiro se acusa, depois se apedreja. Se a acusação for infundada ou o acusado for inocente, fazer o quê? No máximo, cara de paisagem e fingir que nada aconteceu.
É só mais uma reputação destruída. Um corpo destroçado. Uma missão suicida. Pouco importa. O que está em jogo não é a justiça, mas o justiçamento. O grande tribunal precisa causar, o espetáculo não pode parar. Qualquer coisa, é só dizer "ah, mas ele mereceu".
As máquinas de moer carne no Facebook são as mesmas que alimentam as calçadas cheias, à própria sorte. Todos sabem tudo. Todos têm opinião certeira sobre tudo. E ai de quem ousar desafiar o senso comum.
Raramente os comentários são construtivos, pelo contrário. Em nome da liberdade democrática, eis a liberdade de destruição do outro. A opinião virou um míssil para destruir a dialética. Parabéns aos senhores juízes do Facebook: vocês venceram! Ergam seus grandes troféus de senhores da verdade! Sintam-se infalíveis e satisfeitos, até o próximo cadáver ser removido pelo rabecão.