Lá se vão 50 anos do Golpe de 1964 e na efeméride das seis décadas da quebra da democracia brasileira, a TV Globo reage a essa triste lembrança com a projeção de um filme crucial para a luta contra o obscurantismo do país nos tempos de Jair Bolsonaro: “Bacurau”. Há cinco anos, o filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, egresso de Penambuco, conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Esta noite, ele pode ser visto em toda a sua potência na grade da “Tela Quente” do Plim-Plim.
Visto por cerca de 720 mil pagantes nas salas de exibição, o thriller passa após o “Big Brother Brasil”, numa faixa de programação foi inaugurada pela TV Globo em 1988. Na gênese da “Tela Quente”, foram exibidos sucessos como “Star Wars – Episódio VI: O Retorno de Jedi” (1983), “Annie Hall – Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977) e “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), filme citado muitas vezes por Kleber como sendo um dos pilares do cinemão.
Foi em 2019 que o mundo conheceu a cidade de Bacurau e seu slogan – “Se vier, que venha em paz” – numa projeção no Palais des Festivals de Cannes. Desde então, essa localidade fictícia fincou suas estacas no Real. “Eu tenho tido a sorte de ver meus filmes ocupando naturalmente todo tipo de espaço, de Cannes a cinemas de rua, multiplexes, cineclubes no interior, blu-ray e torrent, Netflix, Canal Brasil e televisão de avião. E vê-lo passar em ‘Tela Quente’ significa que esse filme pernambucano faz parte do Brasil e da conversa brasileira”, celebrou Kleber em resposta ao Correio quando seu filme passou na TV aberta pela primeira vez, em plena pandemia. “Com audiência estimada em 40 milhões de espectadores, espero que ‘Bacurau’ sugira aquela sensação que eu tive quando era criança e vi ‘O Planeta dos Macacos’ na Globo”.
Em Cannes, risos nervosos, suspiros de assombro, torcidas apaixonadas e um aplauso num momento de virada marcaram a projeção na Croisette de “Bacurau”, cuja trama se passa em um futuro próximo, com drones em forma de disco voador. O enredo, o local de onde o filme toma seu título emprestado some do mapa depois da morte de uma ilustre moradora. O desempenho de Silvero Pereira, como o “neocangaceiro” Lunga, um dos habitantes de maior fúria da cidade, infla a tela com urros, fúria e sangue, numa narrativa com ecos de “Mad Max” e de Walter Hill (“Warriors – Os Selvagens da Noite”). Wilson Rabelo é quem mais se destaca, no papel do professor das crianças de Bacurau: é ele quem se dá conta de que o lugarejo desapareceu da cartografia brasileira. Esse sumiço condiz com a chegada de um par de forasteiros de moto (Antonio Saboia e Karine Teles) e o início de uma onda de mortas ligada a um grupo de estrangeiros chefiados por Michael, papel do mítico ator e modelo alemão Udo Kier, num desempenho impecável. Na versão brasileira, Kier é dublado por Mauro Ramos.
Mais cedo, ali pelas 15h30, em sua “Sessão da Tarde”, a Globo celebra a potência de Matteo Garrone e seu “Pinóquio” (2019), com Roberto Benigni no papel de Geppetto.