Por: Gabriel Vaquer (Folhapress)

José Luiz Villamarim: 'As pessoas querem ver TV e se identificar'

José Luis Villamarim | Foto: Divulgação TV Globo

Quando chegou à Globo nos idos dos anos 1990, José Luiz Villamarim não imaginava que viraria o gestor da teledramaturgia da empresa 30 anos depois. "Sou um bicho de set", diz ele em entrevista exclusiva, a primeira desde que virou o principal diretor de gênero da emissora, em 2020. Diretor de novelas como "Avenida Brasil" (2012), "Onde Nascem os Fortes" (2018) e "Amor de Mãe" (2019), Villamarim tem sido testemunha e protagonista de uma série de mudanças na emissora. O fim do grande banco de talentos da Globo se uniu à necessidade de exibir mais diversidade na tela. Na conversa a seguir, ele reflete sobre o atual momento das novelas no Brasil.

Remakes e continuações são uma tendência mundial. No caso da Globo, alguns foram bem-sucedidos, mas houve insucessos também. Isso não liga um alerta para produções futuras do tipo?

JOSÉ LUIZ VILLAMARIM - Sou fã de remake. Já fiz "Anjo Mau" (1997), "Cabocla" (2004) e "O Rebu" (2014). A gente tem uma dramaturgia de 60 anos, e que está aí pra gente usar. Mal comparando com Shakespeare e companhia, são textos clássicos. O Benedito [Ruy Barbosa] é um clássico. Sempre que há a possibilidade de refazer algo dele é bom. Por que não revisitar textos a partir da pauta contemporânea? Evidentemente, fazendo os contrapontos, modernizando, incluindo a rede social, a internet, por exemplo, por que o mundo mudou. A gente tem vontade de fazer outros remakes, sim. Mas a gente não tem uma fórmula de sucesso. Algumas vezes algo vai melhor, outras não. Para mim, "Renascer" está super bem. "Pantanal" foi um buzz, sem dúvida. Em "Elas por Elas", a gente teve que fazer uma correção e viramos o jogo.

De fato, a audiência subiu na reta final...

A gente fez uma correção, é da natureza do nosso negócio. Com essa novela, a gente experimentou. Fizemos uma coisa que acho importante: sair da caixinha. Claro que isso dentro de um negócio gigante. Isso [o erro] vai acontecer. Mas teremos outros remakes.

"Vale Tudo" é um deles?

Grande chance (risos). [Está] 99% certo. Será o ano dos 60 anos de Globo... Gosto de falar as coisas quando estão confirmadas, mas pode pensar em "Vale Tudo", sim.

E como seria atualizar uma novela como "Vale Tudo"? A questão da polarização, por exemplo, poderia estar no centro da trama?

O que tem que ter é o espírito do tempo. A gente tem que estar ligado no que está acontecendo. A gente vive num país hoje, como você lembrou, polarizado. Mais conservador por um lado, mais moderno por outro... Como fazer isso é a grande chave.

A Globo não tem mais um grande banco de elenco por questões de mercado. Existe uma dificuldade maior para escalar os atores atualmente?

A gente mudou o modelo de negócio, mas dificuldade eu diria que não existe. Continuamos sendo um lugar atrativo para todo mundo. O que a gente tem é a preocupação de ter uma tela brasileira. Você pode ver o trabalho que a empresa está fazendo. Sempre gostei de lançar, trazer gente nova, de inovar. Isso traz frescor para a tela. A dramaturgia tem alguns princípios que você não pode mexer. Você tem que ter o folhetim, tem que ter o triângulo amoroso, mas você tem que ter frescor. Frescor você traz através de elenco, através de novos autores. É do nosso ofício. Mas a gente não pode deixar de ofertar grandes nomes. E a gente oferta.

Falando em novos autores, que nomes as pessoas devem ficar de olho para os próximos anos?

É até chato isso, por que posso esquecer de alguns (risos). Mas tem o Elisio Lopes Jr, que está trabalhando com Rosane Svartman em "Elas Fazem Direito" e que trabalhou com o Duca Rachid e foi fundamental pra estruturar e conceituar "Amor Perfeito" (2023). Tem o Juan Julian, um menino novo que já fez um filme conosco e apresentou projetos. Temos também a Renata Martins e a Jaque Souza, do "Histórias Impossíveis", que estavam na oficina de novos autores de novelas e vão apresentar projetos. Tem a Cleissa Regina Martins, que fez especial de Natal, "Terra e Paixão" (2023) e também concorrendo a vaga para uma novela. Tem Renata Andrade e Thaís Pontes, de "Encantado's", também. E Dino Cantelli, de "Vítimas do Dia". Fiquem de olho.

Vocês estão fazendo oficina para formar autores de novelas para todos os horários?

Fiz uma oficina das 18h e estou fazendo para as 19h. Mas novela das nove não, porque pra fazer novela das nove, tem que passar antes pela das seis ou das sete. Nessas oficinas, a gente faz sinopse, vai e volta, um bloco, dois blocos, quantos blocos precisar para ir até o final, para a gente estar seguro, acreditar nesse texto.

Antigamente, havia uma fila muito organizada nos vários horários na Globo. Se sabia a novela que vinha a seguir com uns três anos de antecedência. Isso mudou um pouco. Por quê?

Acho que tem que paralelizar o desenvolvimento de novelas. Tenho dois ou três autores pensados. Prevejo, para que eu tenha o mínimo de planejamento, mas, ao mesmo tempo, tenho que ter opções. O que estou tentando montar é uma estrutura para que a gente sempre tenha duas ou três opções.

A gente vive um momento em que existe muita oferta de telas. Ainda faz sentido tentar prender a atenção das pessoas por seis, sete meses?

Novela é um hábito. A gente conquistou. Com essa mudança, começa a aparecer um outro jeito, um outro olhar. Estamos experimentando, tentando ver como continuar mantendo esses números.

Você pode dar um exemplo prático?

Hoje, as pessoas querem ver TV e se identificar. É uma impressão que tenho. Comecei a entender, por exemplo, quando a gente foi fazer "Fuzuê" (2023). Essa é a nossa função para que a gente siga sendo atraente. E continuamos sendo. Os números comprovam isso. Não tem nada de arrogante nisso. É estatístico.