Afim de fazer jus à tradição de sucesso popular de sua mais nobre sessão de cinema - a "Tela Quente", no ar há 36 anos -, a TV Globo aposta na excelência do thriller autoral e exibe um dos mais controversos achados dos tempos de pandemia: "Infiltrado" ("Wrath of Man"). A pérola do cineasta inglês Guy Ritchie será exibida às 23h desta segunda, em versão brasileira, com Armando Tiraboschi emprestando a voz ao ferrabrás Jason Statham.
"Sempre penso em diretores de prestígio com quem gostaria de filmar, pelo apelo estético deles, mas eu sou associado a um tipo de persona que, aqui, eu busquei dilatar, tentando humanizar a figura do vigilante sob a chave da paternidade, da dor. Ritchie é um diretor de alma e identidade que se identifica comigo. Temos uma entrada", disse Statham ao Correio da Manhã, na estreia do filme, em 2021, ainda sob o alerta da covid-19, quando sua bilheteria galopou até US$ 104 milhões, mundialmente, associada a resenhas elogiosas.
Com seu jeitão despojado e seu acento cockney, num falar de palavras duras, Statham parece o oposto da apolínea figura de heróis hollywoodianos clássicos, como Gary Cooper (1901-1961), sobretudo em sua maneira de diminuir a densidade populacional da bandidagem, por onde pisa, na Los Angeles selvagem de "Infiltrado". É o filme mais exuberante de Ritchie desde seu "Sherlock Holmes", em 2009. Mas é impossível não se estabelecer um paralelo entre a imagem pública de seu protagonista e a de Cooper neste elétrico longa-metragem sobre justiçamentos.
Embora tenha as mesmas manhas acerca da representação do submundo de todos os bons filmes de Ritchie, "Infiltrado" é menos um thriller noir e mais um filme de ação clássico. Nos cinemas, a ação é filha cosmopolita do western. Jamais haveria Rambo sem Ethan Edwards, o maior caubói de John Wayne, visto em "Rastros de Ódio" (1956). E a ação, tal qual o bangue-bangue, foi tornada proscrita pelos fariseus das fake news. E já é assim faz tempo...
Desenvolvido sob o selo da MGM, "Infiltrado" é uma releitura anglo-americana do thriller francês "Assalto ao Carro Forte" (2004), de Nicolas Boukhrief. Statham assume o papel que era de Albert Dupontel, agora chamado de H. Repleto de destreza em lutas e no uso de armas de fogo, ele entra para uma equipe de seguranças responsável por proteger sacos de dinheiro. Mas H não entrou nessa missão interessado em trabalho e, sim, em uma revanche pessoal.