Certa vez o escritor e filósofo britânico G.K. Chesterton disse que "o verdadeiro humor começa quando deixamos de nos levar tão a sério." A Globo se valeu dessa máxima na superprodução que celebrou seus 60 anos na noite desta segunda-feira (28), na Farmasi Arena, na Barra da Tijuca, e que foi exibida após a novela "Vale Tudo". Assumidamente inspirado numa cerimônia do Oscar, o evento reuniu artistas históricos, apresentações musicais, homenagens e momentos de nostalgia. Com humor, leveza e sem se levar tanto a sério. Uma sábia decisão.
O maior destaque da noite foi o VT estrelado por vilãs clássicas das novelas da emissora. Susana Vieira, Glória Pires, Renata Sorrah, Adriana Esteves, Flávia Alessandra, Lilia Cabral, Letícia Colin e Joana Fomm apareceram em uma esquete de humor ácido. No camarim, discutem qual delas seria a maior megera da história da Globo, até se unirem em um plano para invadir a festa. "Estão tentando nos substituir por influenciadores", especula Carminha (Adriana Esteves), em crítica bem-humorada à era digital. "Globolixo!", esbraveja Cristina (Flávia Alessandra), arrancando gargalhadas da plateia.
O reencontro das vilãs teve enorme repercussão nas redes sociais. Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) se gabava de ser um dos maiores memes da internet, com repercussão internacional.
"Parece um Vingadores versão vilãs da Globo", escreveu uma internauta. O ex-BBB Gil do Vigor, presente na plateia, tuitou: "Quero uma série com as vilãs!". A sequência foi encerrada por Ivete Sangalo, que surgiu no palco cantando um mashup de "Sympathy for the Devil", dos Rolling Stones, e "Erva Venenosa", de Rita Lee, vestida de preto da cabeça aos pés.
No mais, a festa foi marcada por uma mistura de reverência ao passado com bom humor. Tatá Werneck surgiu vestida como Praga, personagem do "Xou da Xuxa", e zombou dos rumores de brigas de bastidores envolvendo atores de "Vale Tudo", algo que a própria emissora decidiu tratar com leveza. A piada funcionou como uma resposta afiada e espirituosa.
Outro momento de impacto foi a homenagem aos ícones do humor da Globo, que reuniu personagens de programas como "Casseta e Planeta", "Sai de Baixo" e "Turma do Didi" em uma chamada de vídeo simulada. Renato Aragão, que teve desavenças recentes com a emissora, apareceu sorridente na plateia.
Também de volta à cena, Regina Duarte interpretou "Tele Tema", da novela "Véu de Noiva", de 1969. A atriz, que nos últimos anos rompeu laços com a classe artística ao aderir ao governo Bolsonaro, havia sido afastada da emissora. Agora, reapareceu em clima de reconciliação, após recente entrevista ao "Conversa com Bial".
As novelas foram celebradas com figurinos e coreografias que evocaram personagens icônicos. O saudoso Ney Latorraca (1944--2024) reviveu o conde Vlad de "Vamp" com dançarinos fantasiados de morcegos. Ginastas como Daiane dos Santos e Rebeca Andrade protagonizaram uma apresentação poderosa ao som de "Run the World (Girls)", de Beyoncé, acompanhadas de outras atletas brasileiras.
Na música, houve encontros raros. Roberto Carlos abriu a noite com "Emoções", seguido por Fábio Jr., Negra Li e Sandy & Junior, que cantaram "Eu Acho Que Pirei". Angélica surgiu vestida de Fada Bela. Xuxa, ovacionada, encerrou o bloco nostálgico ao sair de uma réplica de sua icônica nave espacial, levando a plateia ao delírio com "Ilariê".
O pagode teve espaço com Zeca Pagodinho e Péricles. O sertanejo reuniu o grupo Amigas, com Simone Mendes, Ana Castela, Lauana Prado e as irmãs Maiara e Maraisa. Gilberto Gil representou a MPB, em performance que marcou sua última turnê pelo país. O jornalismo foi homenageado com depoimentos de Renata Lo Prete, Poliana Abritta e Sandra Annenberg, que brincou com o meme sobre falta de elegância. As falas celebraram a credibilidade da emissora e seu fundador, Roberto Marinho, que começou como repórter no jornal O Globo, herdado de seu pai, Irineu Marinho.