Por: Ana Paula Marques

Banco Central reduz em 0,5 ponto a taxa de juros

Taxa de juros do país caiu pela terceira vez consecutiva | Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Mesmo após polemicas sobre zerar ou não a meta fiscal para 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu cortar a taxa básica em 0,5 ponto percentual ao ano. A Selic caiu de 12,75% para 12,25%, uma redução que já era esperada pelo mercado, que temia, porém, que o abandono da meta fiscal pudesse alterar os humores do comitê. É o terceiro corte seguido na taxa, que caiu ao menor patamar desde maio de 2022, quando estava em 11,75% ao ano.

O mercado andava instável desde a última fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de talvez não seguir o plano econômico do seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de zerar o rombo das contas públicas em 2024. A fala que causou prejuízo — e até queda nas operações da Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira — é a de que Lula considera o mercado “ganancioso” demais ao cobrar uma meta que “ele sabe que não será cumprida”.

O Copom projetou que a taxa de juros poderá ter nova queda em dezembro e termine fechar o ano 11,75% ao ano. Para 2024, o mercado estima que a Selic feche o ano em 9,25%. Acompanhando outros bancos centrais.

A queda, considerada cautelosa, não agradou à Confederação Nacional da Indústria (CNI), que, por nota, disse considerar compreensível, mas insuficiente, a decisão do Banco Central. O presidente da CNI, Ricardo Alban, afirma esperar que, mantido o cenário de controle da inflação, sejam realizados novos e mais intensos cortes nas próximas reuniões.

“A queda da Selic não é suficiente para impedir custos adicionais e desnecessários em termos de atividade econômica. Tenho a plena convicção de que a queda de juros não está na velocidade que precisamos”, afirmou Alban.

Cenário externo

O economista e professor de Mercado Financeiro da UnB, Cesar Bergo, explica que manter a velocidade de cortes em meio ponto percentual revela uma postura cautelosa do Banco Central. “Um motivo para a cautela é o cenário externo, por conta de tensões geopolíticas”, explica. Neste momento, há duas guerras em curso no planeta: na Europa, entre Rússia e Ucrânia, e no Oriente Médio, entre Israel e o grupo Hamas. “O quadro fiscal também é um dos motivos para manter uma redução de somente 0,5 ponto, pois é necessária responsabilidade fiscal para atingir as tão almejadas metas de superávit”, disse.

Para o consumidor, explica o economista, este nível da Selic influencia diretamente na melhora do cenário das taxas de empréstimos e financiamentos. Como a Selic é a taxa básica, a tendência é sua redução provoque também redução nos juros cobrados em outras operações, como prestações, cartão de crédito, etc. O investidor, também terá uma rentabilidade interessante, porque a taxa Selic ainda é uma taxa elevada considerando a inflação. Então, o ganho real está situado em torno de 7% ao ano e isso é uma das maiores taxas de juros reais do planeta.

A previsão, segundo a economista e professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas, Carla Beni, é que na próxima reunião do conselho seja estabelecida outra queda de meio ponto na taxa. “O BC deixou bem claro a importância das questões fiscais por cumprimento da meta. O processo de desinflação também poderá auxiliar para a queda da Selic, ou seja, se o processo inflacionário em curso seguir em redução, isso vai trazendo a inflação para a meta, como já acontece, e reduz também a taxa básica”, declara.

Protestos

Antes de sair o comunicado do Copom, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e os diretores do banco, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, abraçaram servidores da entidade, em sinal de apoio a protestos realizados em frente à sede do banco em Brasília, na quarta-feira (1). Os trabalhadores do BC pedem valorização de carreira e ameaçam realizar greve se não houver avanço nas negociações.

A manifestação vem travando a publicação dos dados mensais do setor externo e das estatísticas monetárias e de crédito, que tinham sido marcadas para a semana passada. Elas foram adiadas para a próxima semana, como a nota de resultado primário do setor público.

O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) já admitiu a possibilidade de que os funcionários entrem em greve ainda em novembro. Os servidores também pedem a criação de um bônus de produtividade semelhante ao implementado para a Receita Federal no atual governo.

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