Por: Gabriela Gallo

Com prejuízo milionário, BRB foge de perguntas sobre inadimplentes

Operações arriscadas do BRB geram prejuízos e inadimplência | Foto: Divulgação

O Banco de Brasília (BRB), patrocinador oficial do Clube de Futebol e Regatas Flamengo, foi alvo de polêmica após uma determinação do Banco Central. As informações iniciais são do Correio Braziliense. O banco firmou uma parceria com a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, em Portugal, e lançou como receita o valor de R$ 77 milhões (14 milhões de euros) que receberia, ao longo de sete anos, com a instituição financeira. A proposta era lançar uma loteria no Distrito Federal. Porém, após uma troca de gestão da entidade de Lisboa, o contrato foi desfeito por ser considerado inviável.

E a receita lançada pelo banco foi considerada irregular pelo Banco Central (BC), principal instituição financeira do país. O BC identificou um buraco de R$ 321 milhões nas contas do BRB, de receitas que não existem. O BC considerou o registro contábil de diversas ações do banco inconsistente e determinou que o BRB refizesse os balanços de 2022 e de 2023. E essa mudança registrou um rombo milionário no banco.

R$ 455 milhões

De acordo com o jornal Folha de São Paulo, o banco teve um prejuízo que chegou na casa dos R$ 455 milhões devido ao cartão Nação BRB Fla, um cartão de crédito virtual voltado para os torcedores do Flamengo. O Relatório do Desempenho Operacional do BRB revela que, em junho deste ano, o estoque de operações em prejuízo é o equivalente a 105% dos empréstimos disponibilizados pelo banco. Os dados são resultado de uma alta inadimplência dos clientes do banco usuários do cartão Nação BRB Fla, ou seja, quando um consumidor não paga uma conta ou uma dívida.

O BRB é um banco público de economia mista, ou seja, ele é controlado pelo Governo do Distrito Federal (GDF), mas é organizado sob a forma de banco múltiplo. O BRB comunicou ao BC que está procurando um sócio para a parceria na plataforma digital Nação BRBFla para dividir com esse futuro sócio os prejuízos que vem acumulando no negócio.

Provisionamento

Ao Correio da Manhã, o economista Newton Marques criticou a gestão econômica do banco. Ele explicou que tanto bancos públicos quanto privados, quando registram uma inadimplência elevada, precisam realizar um provisionamento de capital. Um provisionamento de capital é quando a empresa precisa garantir que seja realizada uma reserva de dinheiro para que gastos previstos sejam honrados no futuro.

“É exigido pela resolução do Conselho Monetário Nacional que todo crédito que não é pago, ou seja, um pagamento que não foi realizado, ele se torna inadimplente. O que quer dizer um provisionamento? O banco trabalha com recursos de terceiros. Então, quando ele tem que fazer o provisionamento, ele usa recurso capital próprio. Você imagina o GDF ter que colocar dinheiro no BRB porque há uma inadimplência muito alta. Ou seja, o governador resolveu pedir para o banco fazer os empréstimos. Não fizeram as análises de risco de crédito e agora estão sofrendo. Então, foi uma irresponsabilidade do governador, já que o GDF é o controlador do banco. O banco deixou de ter uma regra prudencial, e aí o Banco Central vai em cima. E, aí, ele [BRB] queria vender ações, ele queria maquiar o balanço, o Banco Central mandou ele desfazer tudo e colocar realmente o que está acontecendo”, explicou o economista.

O outro lado

A reportagem tentou entrar em contato com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), mas a assessoria do GDF informou que somente o BRB responde sobre o caso. Em resposta ao Correio da Manhã, o Banco de Brasília afirmou que “o lucro líquido acumulado até junho de 2023 foi de R$ 2 bilhões, considerando o período de 2019 ao primeiro semestre de 2023”.

“O Banco alcançou resultados recordes nos últimos anos, ampliando sua base de clientes para mais de 7,3 milhões e triplicando seus ativos, que passaram de R$ 15 para R$ 45 bilhões. No mesmo período, os dividendos pagos ao Governo do Distrito Federal, acionista majoritário, foram da ordem de R$ 667,3 milhões. Em sua atuação como banco público que promove desenvolvimento econômico, social e humano, o BRB operacionaliza 25 programas sociais do governo. Por meio desses programas, desde 2019, a instituição já colaborou com a transferência de mais de R$1,5 bilhão creditados para 336 mil famílias. Foram mais de 6,5 milhões de benefícios creditados neste período”, informou o banco à reportagem.

Sobre os cartões BRB Fla, o banco disse que “a parceria negocial estratégica firmada com o Flamengo para o lançamento do banco digital Nação BRB FLA conquistou mais de 3,5 milhões de clientes, além de presença em 93% de todo o território nacional, 32 países e todos os continentes”.

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