Por: Cláudio Magnavita*

Depois de atacar CVM, micro fundo de ações cria confinamento de 24 meses para seus investidores

Gestor da Esh, Vladimir Timerman poderá ser preso caso descumpre decisão | Foto: Reprodução

Vladimir Timerman tenta evitar insolvência aumentando de D20 para D720 resgates do Esh Capital

Em Assembleia realizada nesta terça-feira (16), o micro fundo Esh Capital Theta, gerido pelo ativista Vladimir Timerman, decidiu aumentar de três semanas para dois anos o tempo de espera entre o pedido de resgate de investimentos e o recebimento do dinheiro.

A informação, publicada pelo site Monitor do Mercado, também ganhou espaço na coluna de Lauro Jardim, no O Globo, o que foi "comemorado" pelo gestor.  Em seu perfil no X (ex-Twitter), Timerman citou a nota como status de credibilidade. Para ele, a "mudança no prazo" de resgate não merecia um espaço tão nobre.

Mas, exigir a permanência do investidor por longo dois anos não é uma mudança trivial. Quem colocasse as suas economias no Esh Capital podia resgatar em 18 dias; com a decisão do último dia 16, terá de esperar 720. É o micro fundo com um macro prazo de resgate.

Para o investidor, a camisa de força que é colocada leva a uma perigosa exposição, que fez acender as luzes vermelhas do mercado.

A primeira delas é a proteção do próprio fundo, dos seus investidores minoritários, que poderiam resgatar suas posições com a flutuação positiva das ações das quatro rubricas de investimentos. Uma das fragilidades do Esh Capital é a concentração em, no máximo, quatro companhias. O cenário fica grave com a relação hostil com as empresas em que investe. Timerman, hoje, além de ser réu em ações criminais e cíveis, está participando de algumas arbitragens pesadas. Em 24 meses, muitas destas ações judiciais poderão até impedir a sua  continuação no mercado.  

Só na CVM (Comissão  de Valores Mobiliários), ele responde a quatro processos. Nos últimos anos, Timerman tem entrado em conflito com o órgão regulador e atacado os ex-dirigentes. Os seus ataques já são considerados folclóricos e a perda de credibilidade das suas queixas resultam em um passivo para os investidores.

Um problema novo que o Esh Capital passa a enfrentar são as ações jurídicas movidas pelas próprias companhias em que ele possui posições. O gestor está sendo acusado de causar prejuízo às empresas por promover litígios infindáveis e arranhar a credibilidade das companhias no mercado. Um efeito kamikaze.

No site da CVM, o balancete do fundo Esh Capital Theta mostra que, embora este apresente 'saldo realizável' de R$ 95 milhões, sua disponibilidade efetiva não passa de R$ 42 mil em depósitos bancários atualmente, conforme tabela.

Macaque in the trees
Tabela disponível no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) | Foto: Reprodução

Os movimentos do próprio Timerman são contraditórios. Chegando a ter 25% das ações da Gafisa (GFSA3) e hoje a sua posição é um pouco mais de 5%. Ele mesmo as vendeu por necessidade de fazer caixa. A decisão acautelatória, embora tenha pegado de surpresa os cotistas do fundo citado (com grande repercussão, em todo o mercado), representa uma medida desesperada do 'gestor', no sentido de evitar uma debandada geral e crescente de investidores, que já teriam 'comprado' a percepção do mercado: a de que Timerman, por não conseguir 'entregar' rentabilidade, estaria buscando evitar a própria 'bancarrota'.

Um comunicado enviado nesta quarta-feira da Genial Investimentos, recomenda que os acionistas avaliem a manutenção da posição no fundo, diante do aumento do prazo do resgate.

Para um analista da área de regulação do mercado de capitais, a decisão indica o estado de saúde do fundo: "Está quebrado", disparou.

Os resultados do fundo e a recente decisão de multiplicar o prazo de resgate, inspiram uma analogia imediata: o Esh Capital funcionou como o Flautista de Hamelin, um conto, reescrito pelos Irmãos Grimm, em que o personagem, tocando sua flauta hipnotizadora, atraiu primeiros os ratos e depois as crianças para se afogarem no Rio Weser. Usando as redes sociais e promessas de alta rentabilidade, Timerman atraiu investidores para as suas batalhas contra as companhias em que investe. Só que agora quer colocar seus cotistas em um confinamento de 24 meses, enquanto é réu de 42 processos, participa de duras arbitragens e briga com a CVM. Quer evitar a fuga e a liberdade dos seus investidores atraídos por uma flauta mágica, os levando para um afogamento financeiro.

A festejada nota de Lauro Jardim, em O Globo, destaca só o dilatamento do prazo e foca na data de 20 de fevereiro para escapar do confinamento. Para um advogado que conhece o 'modus operandi' do gestor deste micro fundo, Timerman inovou ao criar uma própria 'recuperação judicial', na qual fica blindado dos credores (investidores) e evita que o Esh Capital (fogo em hebraico) arda na fogueira de conflitos que gerou.

 

*Diretor de Redação do Correio da Manhã

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.