Por Marcello Sigwalt
'Camarão que dorme, a onda leva'. A máxima popular se aplica à inércia do Palácio do Planalto, ante à rápida 'jogada' do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em franca articulação no Congresso Nacional, em favor do Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que preserva a autonomia da autoridade monetária.
A nova arremetida do comandante monetário promete esquentar, ainda mais, os ânimos, à medida que se aproxima o fim de seu mandato, no último dia de 2024, somente precedido pelas eleições municipais, primeiro teste político do mandatário da hora, e ponto de transição para o restante de seu perdulário mandato. Em tom ameno, Campos Neto agora admite discutir a questão com o 'bombeiro' Haddad (ministro da Fazenda).
Como é bem improvável o êxito dos 'bombeiros de plantão' entre os antagonistas 'em riste', uma vez ultrapassado o recesso parlamentar carnavalesco, a 'treta' deve prosseguir, ao longo do ano, turbinada pelo principal cunho da PEC, que seria o de retirar do Executivo o papel de supervisão do BC, para pôr essa prerrogativa sob o crivo do Legislativo.
Aparentemente ignorando qualquer consulta prévia ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Campos Neto teria sinalizado a aliados no Senado que pretende batalhar pelo trecho da PEC que deixa expressa a migração da competência entre poderes.
O texto da matéria legislativa, de autoria do senador Vanderlan Cardoso (PSD-MG), deixa claro que o BC terá "a autonomia de gestão administrativa, contábil, orçamentária, financeira, operacional e patrimonial sob supervisão do Congresso Nacional".
Ao reacender a animosidade entre presidentes da República e do BC, a peça legislativa deve implodir a trégua entre estes - costurada entre Haddad e Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do BC e o mais cotado para substituir Campos Neto no comando da autoridade monetária - estaria por um fio.