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Ata do Copom não menciona risco fiscal

Incerteza monetária acende alerta de maior risco fiscal | Foto: Divulgação

O saldo mais evidente da 'explícita' divisão dos membros do Copom (Comitê de Política Monetária) é a elevação firme da percepção de risco, mediante o entendimento de que os diretores indicados pelo Planalto deverão apoiar um corte mais expressivo da Selic (taxa básica de juros) nas próximas reuniões do colegiado, o que lança dúvidas quanto ao compromisso do substituto de Campos Neto no comando do BC, no que se refere 'à busca de convergência da inflação à meta'.

A avaliação realista é do economista, sócio da HB Escola de Negócios e colunista do Valor Investe, Hudson Bessa, ao comentar o corte 'módico' de 0,25 ponto percentual da Selic (para 10,50% ao ano) na semana passada, que encerrou o ciclo de seis reduções seguidas da taxa básica, embora a 'ala governista' do comitê defendesse, a reboque da orientação do mandatário do Planalto, um corte de meio ponto percentual.

Ao mesmo tempo, o tom da incerteza na condução da política monetária fica patente no teor da Ata do Copom, nessa terça-feira (14), ao mencionar a pressão da resiliente inflação em várias regiões do globo e o decorrente adiamento do processo de redução dos juros (flexibilização monetária) pelos países desenvolvidos, sobretudo, os Estados Unidos, maior economia do planeta. No front doméstico, Bessa avalia que o risco fiscal crescente foi motivado pela licenciosidade dos gastos federais, no âmbito do arcabouço fiscal.

Neste último aspecto, o economista chama a atenção para o fato de que justamente o presente desajuste fiscal não have sido incluído entre as variáveis elencadas pelo documento do colegiado, talvez para não entrar em choque com as recentes medidas do Planalto, que obteve do Congresso a garantia de adiantar receitas, sem contar a 'canetada' que eliminou a previsão de superávit primário para 2025, substituído pelo resultado primário zero.

Analistas agora avaliam a probabilidade de a nova composição do comitê ser leniente, ou seja, complacente com a eventual elevação inflacionária, o que lançaria por terra o esforço do BC de preservar os indicadores de solvência tupiniquins, a exemplo da relação dívida/PIB. (M.S.)