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País perde Maria da Conceição Tavares

Por Marcello Sigwalt

"Ninguém come PIB". A dona dessa inusitada, provocadora e 'antitecnocrática' declaração acabou de deixar o plano terreno no último sábado (8), aos 94 anos: Maria da Conceição Tavares, mestra maior de gerações de economistas e a mais brasileira das lusas que aportou a terra de Santa Cruz, tinha a marca da irreverência, aliada ao profundo conhecimento sobre a realidade brasileira.

Defensora perpétua da justiça social, desde os anos 60, a economista ficou célebre por frases como: "Uma economia que diz que precisa primeiro estabilizar, depois crescer, depois distribuir é uma falácia. E tem sido uma falácia. Nem estabiliza, cresce aos solavancos, e não distribui".

Nascida em Anadia, Portugal, em 1930 e formada em Matemática em Lisboa, Maria da Conceição foi professora emérita na UFRJ e do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), além de deputada federal (PT) pelo estado do Rio de Janeiro (1995 a 1999).

Além de contribuir para o Plano de Metas da gestão Juscelino Kubistchek (1956-1961) e trabalhar para a Cepal durante a ditadura brasileira (1964-1985), Maria da Conceição foi às lágrimas, ao vivo pela TV, devido ao fracasso do Plano Cruzado.

"Acompanhei o plano todo, até que capotou de maneira estrondosa. Todas as experiências foram muito amargas. Foram feitas mais de cinco tentativas de atacar a hiperinflação. E não deu, só deu mais tarde. Estava comovida. Pela primeira vez se fazia um plano anti-inflacionário que não prejudicava o trabalhador. Isso é comovedor, todos os outros, como este agora também, provocaram recessão, desemprego e queda de salários".

Ironia do destino, Maria da Conceição foi crítica voraz do Plano Real, único que deu certo, por considerá-lo 'muito liberal'.

Só ela foi capaz de unir, em plena campanha eleitoral, os presidenciáveis José Serra e Dilma Rousseff, que foram juntos prestigiar a celebração de seu aniversário.

A carismática economista deixa dois filhos (Laura e Bruno), além de dois netos (Ivan e Leon), e um bisneto (Théo).