Por:

Miopia federal aciona disparada do dólar

Por Marcello Sigwalt

Prova inequívoca de que a verborragia presidencial (em qualquer governo), motivada por interesses eleitoreiros, sempre 'joga contra' os interesses nacionais, as declarações desastrosas do mandatário do país - de que o governo está "colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal e o crescimento do PIB" - além de contrastar com a caótica realidade econômica, só produziu a disparada do dólar, que subiu 1,29% a R$ 5,4299, na manhã dessa quarta-feira (12), sua maior cotação em 18 meses, quando havia atingido R$ 5,47, em 4 de janeiro de 2023.

A apreciação cambial ocorre em um momento de fragilidade do Planalto, por conta da devolução ao Executivo, pelo Senado federal, da Medida Provisória (MP) do PIS/Cofins, tentativa federal de compensar a perda de receita (R$ 29,2 bilhões), em decorrência da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores econômicos.

Ante uma plateia repleta de investidores, em evento promovido pelo Future Investment Initiative (FII) - organização sem fins lucrativos apoiada pelo fundo soberano da Arábia Saudita (FIP) - o presidente procurou justificar a crise por ele mesmo protagonizada, ao afirmar que "não se consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia" e que o país "detém as melhores condições climáticas e energéticas para a atração de investimentos", acrescentando que o mercado "não é uma entidade abstrata apartada da política e sociedade. Não se sustenta sem estabilidade política e social".

A retórica palaciana infeliz também respingou (mal) no mercado de capitais, com o Ibovespa recuando 1,37% aos 119.973,08 pontos, retrocedendo ao patamar de 13 de novembro (119.878,23 pontos), a reboque das tensões crescentes pelo agravamento fiscal.

Mais do que a indefinição do Federal Reserve (Fed) - o bc ianque - em relação aos juros dos EUA, para o diretor de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, o 'ruído' recorrente entre Senado e governo, por conta da citada MP, é amplificado pelo fato de a equipe econômica não dispor de um plano B para garantir a compensação tributária, desgastando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.