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BNDES: sem margem para o juro cair

Por Marcello Sigwalt

Antes mesmo da 'virada no calendário' para a decisão do Copom, nessa quarta-feira (19) sobre os rumos da Selic (taxa básica de juros), um dos principais interlocutores políticos do Planalto, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, conferiu um tom realista e de sanidade à discussão da questão fiscal, ao fazer um 'mea culpa' público que qualquer outra autoridade ousou fazer, até agora.

Segundo ele, não há 'margem de manobra' para a redução do patamar atual de juros, no curto prazo. "Nós não temos margem de manobra no curto, curtíssimo prazo, de alterar essa condição de termos a segunda maior taxa de juros real do planeta. Mas não pode continuar assim, tem que se pensar a relação de política monetária e fiscal para o Brasil ter juros compatíveis com taxas internacionais", assinalou Mercadante, ao participar de um evento sobre a reconstrução de cidades, na sede do BNDES, no Rio.

Ao afirmar que a relação entre política monetária e fiscal precisa ser repensada, o comandante do banco de fomento evitou fazer prognósticos sobre a decisão do comitê quanto à Selic, se limitando a criticar o patamar atual da taxa básica, em razão da melhoria dos indicadores econômicos. "Esse modelo precisa ser repensado", completou.

Mercadante aproveitou a oportunidade da coletiva para apontar os 'ruídos fiscais e políticos' como principais causadores da queda do volume de consultas por empréstimos do BNDES, que teria perdido força, nos últimos meses, sem contar a tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul.

"Até maio, as aprovações subiram mais de 90% e os desembolsos 27%, mas sentimos uma redução no ritmo das consultas. Tem a ver com todo esse ruído (no país)," assinalou.

Ainda sobre os 'ruídos', o presidente do BNDES acentuou que estes, embora tenham criado um 'grau de desconfiança' similar ao início do governo, tendem a passar, uma vez que os indicadores econômicos melhoraram, ao citar dados positivos relativos ao mercado de trabalho, oferta de crédito e inflação.