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Economistas veem 'agravamento' fiscal

Por Marcello Sigwalt

Atestado do mercado quanto ao mau desempenho da gestão econômica, o Questionário Pré-Copom (QPC), divulgado nessa quarta-feira (26) pelo Banco Central (BC) conclui que 78% dos 111 economistas ouvidos pela instituição entendem que houve agravamento da situação fiscal do país, na passagem de abril para maio deste ano. Do total consultado, apenas 2% visualizaram melhora e outros 20% admitiram não ver 'mudanças' no quadro.

Traduzido tal cenário em números, a mediana de projeções dos analistas apontava um déficit primário de R$ 82,5 bilhões em 2024, em que a dívida bruta do governo geral (DBGG) passaria a 77,3% do PIB. Na consulta anterior, o déficit primário havia sido estimado em R$ 76,3 bilhões, para uma proporção idêntica em relação ao PIB.

Para 2025, o QPC projeta um déficit primário de R$ 94,1 bilhões (80% do PIB da dívida bruta). Por 'estimativas intermediárias', os economistas previram uma receita extra de R$ 85,5 bilhões, devido a medidas econômicas que visam recompor a arrecadação este ano, ao passo que, para 2025, o acréscimo chegaria a R$ 50 bilhões.

No que toca à decisão do Copom, o QPC mostrou que um em cada cinco dos economistas ouvidos (cerca de 20% do total) tinha a expectativa de que o colegiado reduziria em 0,25 ponto percentual a Selic (taxa básica de juros) - mantida, por decisão unânime, em 10,5% ao ano - enquanto 14% 'apostaram' numa redução.

Sintoma de uma situação fiscal muito ruim. Assim definiu a manutenção, em patamares elevados, dos juros no país, o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) e da Julius Baer Brasil, o economista Samuel Pessôa, ao endossar as palavras do ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, para quem "os gastos públicos elevados ferem o legado do real e agravam o quadro inflacionário do país".  

"Ele está totalmente certo. Acho que quando a gente olha o real e a estabilização macroeconômica brasileira, tem uma perna faltando, que é o juro alto. [O Brasil] é um país de juro alto", concluiu Samuel Pessôa.