Por:

BC: Selic parou de cair devido a 'ruídos'

Por Marcello Sigwalt

Excesso de ruídos, nos campos fiscal e monetário, e a decorrente 'piora' nas expectativas de inflação, levaram o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central (BC) a interromper o ciclo de queda da Selic (taxa básica de juros).

A afirmação foi feita pelo presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, ao assinalar, durante participação no fórum do BCE (Banco Central Europeu), em Portugal, que "isso [pausa] tem muito mais a ver com os ruídos que foram criados do que com os fundamentos. Os ruídos estão relacionados a dois canais: um é a expectativa sobre o caminho da política fiscal e o outro é a expectativa sobre o futuro da política monetária".

Diplomático e sem fazer menção, em momento algum, aos ataques do Planalto contra o BC e à sua pessoa, Campos Neto acentuou que ambos os ruídos citados criaram 'incerteza o suficiente para que fosse preciso pausar os cortes da Selic (taxa básica de juros). No mês passado, o Copom, em decisão unânime (ou seja, contou com a concordância dos diretores indicados pelo governo), manteve em 10,5% ao ano a Selic. "[Precisamos] ver como podemos corrigir esse canal e como podemos comunicar melhor para que possamos eliminar esses ruídos".

Fustigado pela imprensa, no evento internacional, a responder às críticas do mandatário petista à condução monetária, o dirigente do BC entende que o presidente "tem que sair da arena política e da narrativa de que o BC tem sido político", além de "avançar com trabalho técnico".

Quanto à iminente mudança de comando no BC - que o 'aliado' e diretor de Política Monetária da instituição, Gabriel Galípolo é o mais cotado para sucedê-lo - Campos Neto observa que a tensão produzida em torno do tema só serviu para elevar "o prêmio de risco na curva", nas últimas semanas, tendo em vista a incerteza crescente sobre a próxima liderança (do BC).

O banqueiro central lembrou que, em 2022, o BC elevou a Selic, em ano de eleição, que chegou ao pico de 13,75% ao ano, maior patamar em ano de eleição na história de qualquer mercado emergente.