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Guerrilha verbal do Planalto alimenta disparada do dólar

Por Marcello Sigwalt

Ironia da história, que nunca falha, em meio às efusivas comemorações do inegável êxito do Plano Real, o fator que mais ameaça a sofrida estabilidade da moeda brasileira, conquistada nas últimas três décadas, é a metralhadora verbal ilimitada do boquirroto mandatário petista, que substituiu outro boquirroto, derrotado nas urnas.

O desespero decorrente da miopia palaciana, ante à ineficácia das medidas econômicas de seu próprio governo, precisa, sempre, eleger um culpado: no início, a 'herança maldita' do antecessor, depois, o ataque vociferante contra a autonomia do Banco Central (BC) e de seu presidente, o 'desafeto' Roberto Campos Neto e, mais recentemente, o dólar, sob o argumento de 'especulação de mercado contra o governo'. Interessante notar que, em todos esses episódios, menção alguma foi feita em relação ao (des)ajuste fiscal, recorrente pelo efeito matemático de termos despesas que crescem mais rapidamente que as receitas, enquanto a 'plebiscitária' eleição municipal não chega....

Terapias à parte, a verborragia presidencial tem feito a alegria dos que investem na derrocada do real, pois o dólar acumula, desde o início do ano, valorização de 15,5%, alcançando R$ 5,68, no fechamento da sessão dessa terça-feira (2).

Sem dispor de 'novos alvos', o presidente agora lança ameaças vazias, de "fazer alguma coisa de concreto contra [a especulação contra o real]".

Ao pontuar que o avanço do dólar 'contamina' todos os preços da economia, a colunista companheira Míriam Leitão diz que "as falas persistentes contra o BC jogam contra o próprio governo e favorecem a especulação cambial".