Por Marcello Sigwalt
O grau de desconfiança dos investidores quanto ao cumprimento, por parte do governo petista, das metas estabelecidas no arcabouço fiscal foi precificado pela necessidade de o Tesouro Nacional de pagar a maior taxa de juros nas emissões da dívida pública, desde julho de 2022, por ocasião da aprovação da chamada PEC Kamikaze, pelo governo Bolsonaro, para viabilizar os gastos daquele governo, em ano eleitoral.
Diante de um cenário fiscal desfavorável, a União foi obrigada a, não só, pagar mais caro para se financiar, mas também acabou captando menos recursos no mês passado.
Quando tal situação se apresenta, não resta ao governo outra alternativa, a não ser recorrer à reserva de liquidez, também chamada de 'colchão da dívida', tendo em vista honrar suas obrigações com os investidores.
Em números, basta afirmar que o volume de emissões em junho último não passou de R$ 68,6 bilhões, o menor do ano e inferior à média registrada nos últimos 12 meses, de aproximadamente R$ 130 bilhões ao mês.
Neste aspecto, a citada 'desconfiança' é atestada no que se refere à emissão das NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional - Série B) - remunerado pelo IPCA, mais juros - a qual exibiu uma taxa real de 6,78% (na última terça-feira,2), patamar considerado recorde, desde a criação do papel, em 2020.
Sinal de deterioração da credibilidade federal junto ao mercado é o da NTN-B de cinco anos, título em que o Executivo teve de arcar com um juro real de 6,3439%, em 11 de junho último, e de 6,3279% em 25 de junho. Ambos os casos representam o maior patamar, desde o pico de 19 de julho de 2022, após a promulgação da PEC Kamikaze, quando bateu 6,378%.
Didático, o head de macroeconomia do ASA e ex-secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, avalia que "se eu preciso ir ao banco toda semana para tomar empréstimo, preciso convencê-lo de que eu tenho como pagar os empréstimos. Senão, ele vai me cobrar taxas de juros cada vez mais altas", o que reforça a necessidade de reforçar sua solvência.