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Economistas descartam o corte da Selic

Por Marcello Sigwalt

A despeito do 'encolhimento' do IPCA - índice inflacionário oficial - que caiu de 0,46%, em maio, para 0,21%, em junho, economistas entendem que 'há desafios de prazos mais longos' a serem superados (tendo em vista a conversão dos preços à meta de inflação), o que tornaria 'inviável' a retomada dos cortes da taxa básica de juros (Selic), hoje no patamar de 10,50% ao ano, a qual deve manter a perspectiva de estabilidade até o final deste ano.

Na sua avaliação, pelo menos para os próximos meses, estaria afastada a hipótese de as 'expectativas de inflação' se aproximarem do centro da meta (3%) para este ano. Pela última medição do IBGE, a variação acumulada do IPCA em 12 meses já é de 4,23%.

Com relação à queda 'surpreendente' dos alimentos no mês passado, assim como a desaceleração observada no setor de serviços, o economista da AZ Quest, Lucas Barbosa, admite que o dado de junho é positivo, no que toca à 'dinâmica da inflação', cuja escalada nos últimos meses vinha sendo objeto de preocupação. Ao mesmo tempo, ele aponta as enchentes no Rio Grande do Sul, a bandeira tarifária amarela e o ajuste da gasolina, como fatores que devem ser monitorados daqui para frente. "O filme da inflação ainda não está bonito, mas a foto de hoje traz algum alívio, ainda que momentâneo", emenda.

Levando em conta o que chamou de choques de preços, Barbosa projeta que o IPCA deve atingir 4,4% este ano. "A Inflação corrente continua bem controlada, mas sozinha não vai ser suficiente para gerar uma alteração do 'call' de Selic. Ainda mais que a atividade está se mostrando bem resiliente, com o dado de emprego superforte no Brasil", avalia.

Ainda que preveja a manutenção da Selic no atual patamar, o economista da AZ coloca um viés de baixa, caso os dados de atividade nos Estados Unidos se enfraqueçam, possibilitando a queda de juros por lá.

Já o economista sênior do Inter André Valério, destaca a desaceleração, em junho, da média dos núcleos do IPCA, de 0,39% em maio para 0,22%, e o acumulado em 12 meses, que subiu de 3,55% para 3,57%.