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'Reduflação' é prática recorrente no país

Por Marcello Sigwalt

Quem já não reparou, em visitas frequentes em supermercados ou similares, nas 'mudanças' espertas nas embalagens dos produtos, que mantiveram o preço, mas reduziram seu peso líquido. Para um observador atento, tal tramoia dos fabricantes representa, efetivamente, um aumento de preço dos itens de consumo.

À essa manipulação visual (e sobretudo, financeira, com o bolso alheio), especialistas dão o nome indigesto de 'reduflação' (shrinkflation, em inglês), termo resultante da contração das palavras 'redução' e 'inflação', que remete ao aumento de custo de um produto sem que haja aumento de preço, aparentemente.

Em terras tupiniquins, a prática desonesta está presente, todo santo dia, em mais de 24 mil produtos, desde uma simples pipoca, a ovos ou biscoitos. Um dos exemplos clássicos disso pode ser comprovado pelo 'sumiço' do pacote de milho de 500 gramas, substituído por outro, de 400 gramas, sem que o respectivo preço seja alterado, sob o reclame cínico de marketing "nova embalagem". O mesmo 'modus operandi' cabe ao óleo de soja, cujo litro, de um dia para outro, foi 'rebaixado' para 900 ml (mililitros).

Mas o artifício - redução do tamanho ou quantidade do produto, sem mexer no preço - embora não constitua crime, não se aplica apenas aos alimentos, mas aos medicamentos. Por enquanto, a única exigência legal é de que a alteração seja informada ao consumidor pelo fabricante.

A estratégia de ludibriar os consumidores se disseminou de forma mais intensa na pandemia, quando a elevação do custo de insumos e matérias-primas impactou fortemente as cadeias produtivas e a logísticas dos mercados globais.

Estudo do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação), aponta que em 2023 foram observados 24.570 produtos 'reduflacionados'. Na avaliação do advogado tributarista do IBPT e coordenador da pesquisa, Gilberto Luiz do Amaral, "essa estratégia cresceu muito em 2023. E como o consumidor não tem tanta memória de preço, que varia muito, este acaba não percebendo a mudança. E a reduflação esconde a inflação".