Por:

Morre o 'czar' da economia, Delfim Netto

'Czar da economia' era visto como 'pai do milagre econômico' | Foto: Divulgação

Por Marcello Sigwalt

Célebre por frases como "dívida não se paga, se administra" e "é preciso fazer crescer o bolo, para reparti-lo" (esta negada por ele), o 'czar da economia brasileira' Delfim Netto desapareceu, nessa segunda-feira (12), da cena econômica e política nacional, aos 96 anos, por complicações de saúde.

Frasista mordaz, saiu de sua 'lavra' a expressão "exportar é o que importa", no auge do 'chamado milagre econômico' (1968-1973), do qual é considerado seu maior artífice, quando a economia brasileira cresceu 11,1%; a inflação caiu 19,2% e o poder aquisitivo da classe média avançou. Essa época foi marcada por grandes obras, como a Transamazônica, a ponte Rio-Niterói e Itaipu.

Decano maior de gerações de economistas - do naipe do professor Mário Henrique Simonsen - Delfim foi ministro da Fazenda dos governos militares dos generais Costa e Silve e Médici (1967-1974) - quando assinou o AI-5 (ato institucional número 5, que suprimiu direitos políticos) - e da Agricultura e do Planejamento do último destes, do general João Figueiredo. Após cumprir cinco mandatos seguidos como deputado federal (um, como constituinte), o apelido jocoso de 'gordinho sinistro' - criado pela esquerda - não o impediu de atuar como consultor econômico dos primeiros governos lulistas.

Mas sua biografia também não foi isenta de polêmicas, pois, em sua longeva passagem pelo regime militar, a dívida externa quadruplicou, o valor real do salário mínimo minguou e a participação dos pobres na renda nacional despencou, a reboque de arrocho salarial e recessão. Processado por suposto desvio de recursos da Caixa Econômica, no caso Coroa-Brastel, Delfim acabou sendo absolvido pelo STF.

Professor emérito da USP, Delfim gostava de afirmar que 'se reinventou, ao longo da carreira', dividida por ele em três momentos: o primeiro, um 'socialista fabiano' que defendia reformas e ações pacíficas para se chegar ao socialismo. O segundo, o homem do governo militar. E o terceiro, aquele que contribuiu com as políticas sociais do primeiro governo Lula (2003-2010).