Ex-diretor do BC prevê aperto monetário

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Não bastasse o avanço 'impenitente' da inflação, captado semanalmente pelo boletim Focus, do Banco Central (BC), é cada vez maior o risco de o país enfrentar, no curto prazo, novo aperto monetário.

A previsão adversa foi feita pelo ex-diretor do BC e CEO da Panamby Capital, Reinaldo Le Grazie, para quem "não sobrou nada ao Copom [Comitê de Política Monetária] a fazer, exceto subir os juros". A reviravolta na Selic (taxa básica de juros) ocorre há menos de dois meses da interrupção do ritmo de cortes.

A tendência altista da taxa básica já foi prenunciada pelo tom 'duro' adotado pela última ata do colegiado, ao classificar como fator de risco de pressão inflacionária a depreciação cambial. Somente este ano, o dólar já valorizou 12% frente ao real.

Aumenta o risco de subida da Selic o fato de a Ata do Copom 'reforçar o compromisso' de fazer 'o que estiver ao seu alcance' para trazer o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao centro da meta (3%), fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

A realidade, no entanto, acabou 'atropelando' a expectativa do comitê, pois o IPCA de julho subiu 4,5% em 12 meses, mesmo percentual do teto da meta de inflação.

Ante tal dinâmica, Le Grazi, participante do Copom de 2016 a 2019, entende que o BC deve inaugurar um novo ciclo de alta da Selic nas próximas reuniões. "Não faz sentido subir [os juros] em uma reunião só", explicou.

Nem mesmo a perspectiva de corte dos juros nos EUA pelo Fed (Federal Reserve, bc ianque) deverá impedir a alta da Selic, conclui Le Grazie.