Governar fora do orçamento virou 'moda'
Observador atento das escaramuças palacianas que garantam recursos, nessa reta final da campanha eleitoral municipal, o gestor da Verde Asset, Luis Stuhlberger, em carta divulgada nesta sexta-feira (6), é bem direto no diagnóstico da situação fiscal atual.
Partindo do princípio de que é preciso atingir a meta de resultado primário 'custe o que custar', Stuhlberger entende que o Executivo tem apresentado "todo tipo de subterfúgios e criatividades", alardeando novos programas de transferência de renda, como Vale Gás e o 'Pé de Meia', que requerem fontes de receitas permanentes.
Frente à constatação da irrealidade de tais propostas, o gestor da Verde sentencia: "Voltamos à era da política pública feita fora do Orçamento, alimentando a criação de um sem-número de fundos e outras tecnologias parafiscais que pareciam ter ficado num passado nem tão remoto". Em outro trecho da carta mensal que assina, ele completa: "Ao fim e ao cabo, a ação do governo tornou a métrica de déficit fiscal primário uma variável pouco relevante para os mercados. A preocupação crescente com o nível e a trajetória da dívida pública brasileira nos parece a consequência inevitável".
A despeito das trapalhadas governamentais para atingir seus compromissos políticos inconfessáveis, as ações brasileiras conseguiram a façanha de apresentar um desempenho positivo no mês passado, mas sob o impulso externo, ante à perspectiva de corte iminente de juros pelo Federal Reserve (Fed), o bc dos EUA. Entretanto, cética, a Verde entende que a expectativa de que o afrouxamento monetário ianque deslocará capitais para os mercados emergentes é 'exagerada'.
Sobre esse eventual cenário 'positivo', a carta da gestora se mantém 'realista':
"Não acreditamos que isso supere os fundamentos preocupantes e o ciclo de alta de juros prestes a ser iniciado pelo Banco Central do Brasil e, por isso, aproveitamos o movimento para vender parte de nossas posições de ações [em setores domésticos cíclicos] e para iniciar hedges, que de maneira agregada levam o fundo à sua menor exposição a bolsa brasileira desde 2016". Segundo ele, agosto foi muito 'volátil' aos mercados globais. (M.S.)