O pacote com medidas fiscais prometido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva poderá gerar efeito positivo sobre a política monetária se for capaz de gerar uma mudança grande o suficiente em variáveis observadas pelo Banco Central ao definir os juros básicos, disse nesta segunda-feira (28) o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, embora ressalve que o anúncio fiscal não tem relação mecânica com a política monetária, mas tem potencial de afetar prêmios de risco, taxas longas de juros e câmbio.
"Tem que ser algo que produza uma mudança nas expectativas que seja grande o suficiente para reverter o prêmio de risco, a expectativa de inflação e a curva longa de juros, e isso alimentaria a função de reação (do BC) de maneira positiva", disse.
"Se você tem um choque positivo, vai influenciar a curva longa de juros, as taxas de juros, o câmbio, as expectativas. E essas variáveis são importantes para nossa função de reação."
Na apresentação, ele reafirmou que se o Brasil quer ter juros estruturalmente mais baixos, provavelmente será necessário apresentar ao mercado medidas que sejam interpretadas como um choque fiscal positivo.
O governo previu apresentar a partir de novembro um conjuntos de propostas para controlar despesas públicas, mirando tornar o arcabouço fiscal sustentável e melhorar a trajetória da dívida pública.
Campos Neto disse, ainda, que a decisão de maio do Comitê de Política Monetária (Copom) — que terminou com uma divisão entre diretores indicados neste e no governo anterior — gerou uma "cicatriz de credibilidade, endereçada pela autarquia".