Galípolo: "Regular bets não cabe ao BC"
Indicado para a presidência do Banco Central, Gabriel Galípolo admitiu nesta terça-feira (8) desconfiança inicial com os dados obtidos em estudo técnico da instituição sobre o mercado de bets no Brasil e disse que a regulação do setor não é papel da autoridade monetária.
Segundo ele, os números alarmantes se confirmaram e cabe ao BC analisar o impacto das apostas esportivas sobre a atividade econômica e a inflação.
"Eu confesso aqui que, nas primeiras reuniões, quando os números me foram apresentados, eu tive uma grande desconfiança. A cada reunião, aqueles números iam se confirmando até chegar no montante que ficou público no estudo que o Banco Central fez", afirmou Galípolo durante sabatina no Senado.
A nota divulgada pela autoridade monetária mostrou que beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões via Pix em agosto para empresas de apostas esportivas.
"Mas, sempre reforçando aqui, o Banco Central não tem qualquer atribuição sobre a regulação de jogos e apostas, a nossa função é muito mais tentar entender qual é o impacto disso em consumo, endividamento das famílias, como a gente consegue explicar a relação entre atividade econômica, despesas e o impacto na inflação", acrescentou.
Galípolo passa por sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal. Essa é a primeira votação para o comando do BC desde que a autonomia da autoridade monetária entrou em vigor, em 2021.
O estudo do BC deixou lacunas e provocou reações de executivos do setor. As empresas apontam que a análise técnica não levou em conta o valor devolvido em prêmios. Segundo uma análise contratada pelo setor de apostas, as pessoas contempladas pelo Bolsa Família gastaram, na verdade, R$ 210 milhões com bets em agosto.
O levantamento das bets considera o valor enviado à plataforma, o dinheiro que retorna ao jogador e o que fica retido pela empresa -tanto as taxas quanto os depósitos deixados pelo jogador para futuras apostas. O tema levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a convocar uma reunião ministerial no Palácio do Planalto.