Valor de meta fiscal 'derrete', mas dívida preocupa mercado

Enquanto a 1ª desperta maior desconfiança, a 2ª bate 78,5% do PIB

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Por Marcello Sigwalt

Quase não é tudo. A expressão, embora óbvia, força a compreensão quanto à perspectiva de o governo federal, a despeito de, ao menos, se aproximar do limite inferior da meta de resultado primário deste ano (déficit de R$ 28,8 bilhões) este ano, relegar a segundo plano a estabilização da trajetória da dívida bruta.

Tal fato tem despertado, tanto temores, quanto desconfianças crescentes do mercado quanto à permanência do risco fiscal na gestão econômica. Trocando em miúdos: a despeito da 'quimera' tecnocrata, de 'perseguir' a estabilização da trajetória da dívida bruta no curto prazo, esta já totalizou R$ 8,826 bilhões (78,5% do PIB) em julho último (último dado disponível), o que torna irrelevante o verborrágico discurso oficial, em torno da meta primária, uma vez se consolida a percepção, entre analistas, a percepção de que as despesas continuarão, por tempo indeterminado, excluídas do resultado primário.

Prova disso, na contramão do que prega o último relatório bimestral do Orçamento - que previu um déficit de R$ 28,3 bilhões este ano, que estaria 'em linha' com o piso da meta - o rombo estimado para 2024 já atinge R$ 68,8 bilhões, cifra que inclui as despesas federais para auxílio à calamidade climática gaúcha, de combate às queimadas e aquelas com precatórios, deixados de fora no cômputo da meta fiscal.

Fazendo 'coro' ao consenso geral, a diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour, comenta:

"Não vou dizer que a meta perdeu completamente importância, mas ela sai enfraquecida com essas despesas fora do seu escopo".