Por Marcello Sigwalt
O desarranjo das contas públicas pode 'descambar' na perda de eficácia da política monetária, o que, na prática, significa retirar do Banco Central (BC) a capacidade de controlar a inflação. Pelo menos até aqui, talvez por razões, tão óbvias, quanto inconfessas, a constatação não é compartilhada por membros do governo.
O quadro classificado de 'dominância fiscal' vem sendo montado pela escalada da despesa do governo com juros da dívida pública, com prêmio de risco elevado, assim como o desencontro entre expectativas de mercado e a atuação do BC, afetando as condições financeiras, o que redundaria numa situação de 'perda de rédeas' por parte da instituição central, realimentando o 'dragão inflacionário'.
Em sua ida à capital ianque, na última semana - onde ocorreram reuniões anuais do FMI, do Banco Mundial e eventos paralelos - o ex-secretário do Tesouro e diretor-geral da IRB Asset, Paulo Valle, admitiu ter observado investidores brasileiros "pessimistas e alarmados", com o que classificou como uma 'antecipação de um possível problema fiscal no país'.
A desconfiança do mercado já está precificada pela emissão, pelo Tesouro Nacional, de títulos prefixados com remuneração que superam 13% ao ano, além de taxas reais de 7% ao ano para papeis corrigidos pela inflação.
Há consenso de que a Selic (taxa básica de juros, hoje a 10,75% ao ano) não ostenta patamar suficiente para 'segurar' a atividade econômica e a inflação.
Ainda assim, o ex-secretário do Tesouro, Paulo Valle, entende que governo tem os instrumentos para reverter a perspectiva de piora fiscal.
Os gastos com juros da dívida, em 12 meses somam R$ 870 bilhões ou 7,7% do PIB, maior patamar desde 2016.