Por:

BC: foco fiscal deve estar nos cortes

O ideal é que o pacote fiscal, hoje em discussão pelo governo federal, se concentre 'especificamente' na questão do corte de gastos, sem que haja novas medidas focadas na ampliação de receitas, sob o risco de 'interditar' o viés de melhora da percepção dos agentes em relação ao trato das contas públicas.

O recado tão duro, quanto consensual pelo mercado, foi dado pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ao explicar o contexto atual: "O mercado entende hoje que para ter efeito de choque positivo tem que ser baseado em corte de gasto do que receita", frisou, ao reforçar a tese de que um 'juro mais baixo' só ocorre em momentos acompanhados de um 'choque positivo' da política fiscal.

Ao descartar a ideia de que o país vive atualmente uma situação de 'dominância fiscal' - em que a política monetária não teria mais efeito sobre a economia - o dirigente central sustenta que há mecanismos para promover tal choque fiscal.

Num gesto de 'boa vontade' para o esforço federal na questão fiscal, Campos Neto entende que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad demonstra estar focado em fazer "a lição de casa", embora ressalve que isso poderia ser feito logo, até porque a situação fiscal do país 'não é um desastre iminente' e que 'é possível corrigi-la'.

Ao participar do evento da Consulting House, no Insper (SP), o presidente do BC ressaltou que, ao olhar "na ponta" a questão fiscal brasileira não difere do resto do mundo, num contexto em que a elevação de gastos na pandemia, agora demanda a necessidade de cobrir tais custos agora, mediante o esforço de reduzir as dívidas. (M.S.)