Risco fiscal 'patrocina' o dólar a R$ 6

Por

O dólar à vista emendou o segundo pregão consecutivo de alta firme no mercado doméstico nesta quinta-feira, 28, tocou o nível psicológico de R$ 6,00 nas máximas da sessão e voltou a fechar no pico nominal da história do real.

A depreciação da moeda brasileira reflete o aumento da percepção de risco fiscal. Além das medidas de contenção de gastos serem consideradas insuficientes para colocar as contas públicas nos trilhos, causou desconforto a proposta de isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês, que significa renúncia de receita.

"Em vez de diminuir as dúvidas, esse pacote aumentou a incerteza, o que puxou o câmbio ainda mais para cima", afirma o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima. "Ficou ainda mais clara a dificuldade do governo em bancar medidas mais duras do lado das despesas."

A corrida mais forte ao dólar começou ontem à tarde com a informação de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, faria pronunciamento em rede nacional à noite. Em sua fala, Haddad enalteceu o governo Lula e fez uma apresentação genérica do pacote fiscal.

Programada para trazer detalhamento do impacto fiscal esperado por cada uma das medidas, a entrevista não foi capaz de reduzir o estresse no mercado cambial. Além do ceticismo com as estimativas do governo, a percepção é de que as informações a isenção do IR foram incompletas.

Com alta firme desde a abertura dos negócios, o dólar à vista rompeu o nível psicológico de R$ 6,00 ainda na primeira etapa de negócios, alcançando R$ 6,0036 na máxima. Após certo arrefecimento ao longo da tarde, a moeda fechou em alta de 1,29%, cotada a R$ 5,9895 - o que leva a valorização na semana para 3,01%.

A liquidez foi forte para um dia marcado pela ausência da referência dos mercados americanos, em razão do feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos.

"O real teve um movimento muito forte de depreciação, totalmente descolado dos pares. Algumas das medidas anunciadas não vão ter o impacto estimado pelo governo", afirma o economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa.