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Uso de reservas externas abre precedente perigoso

Por Marcello Sigwalt

Embora exibam montante 'suficiente' para financiar 12,4 meses de importações, o uso das reservas internacionais do país - último bastião de defesa do real e, em última instância, da estabilidade econômica tupiniquim - hoje de US$ 369,214 bilhões, abre um precedente perigoso, pois pressupõe 'vender dólar', sem ajustar a economia.

Quem afirma isso é o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Reinaldo le Grazie, ao advertir o perigo de 'queimar' parte das reservas, a título de combater o enfraquecimento do real, uma vez que a política macroeconômica segue 'desequilibrada', tendo em vista o quadro de expansão fiscal.

Atual sócio da Panamby Capital, Le Grazie entende que dispor de "US$ 350 bilhões [em reservas internacionais] é bastante, um tremendo seguro, mas acaba rápido se a política econômica estiver inadequada. A reserva pode ir toda embora", adverte.

Crítico da política monetária 'monolítica' em curso, o ex-diretor do BC avalia que, "sem corrigir os problemas de fundo, o Banco Central provavelmente vai vender dólares a um preço mais baixo do que estará no futuro. É ruim, não resolve o problema e ainda queima patrimônio público", dispara.

Mas talvez a questão de fundo, nessa nau errática de gestão econômica seja responder à pergunta: reserva para quê? Diversamente de seu uso para defender o real contra movimentos especulativos ou volatilidade externa, o problema atual das reservas é interno, devido ao desajuste fiscal que alimenta (e realimenta) a desconfiança do mercado com relação ao governo. A consequência previsível é o BC lançar mão da 'puxada' dos juros, agora a 12,25% ao ano, e a 14% ao ano, no curto prazo.

Para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Sour, o "problema do Brasil não é de estímulo à demanda, e sim uma crise de confiança".