'Desarranjo fiscal' do Planalto pode tirar a 'potência' do BC

Mercado: alta da Selic impacta custo da dívida e realimenta a inflação

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Por Marcello Sigwalt

Ratificando aquilo que se tornou notório, nos últimos meses, especialistas do mercado apontam o risco de o Banco Central (BC) perder a 'potência' da política monetária, devido ao que classificaram de 'desarranjo fiscal', tendo em vista o 'impacto' da forte alta da taxa básica de juros (Selic) sobre o custo da dívida pública, enquanto proliferam questionamentos quanto à credibilidade das contas federais.

Frente a esse cenário adverso, analistas debatem o risco de o aperto monetário se tornar 'ineficaz' para 'domar' a inflação tupiniquim, sobretudo, pelo fato, de os indicadores do mercado não responderem, como esperado, ao choque de juros anunciado pelo BC.

Segundo uma fonte do Ministério da Fazenda, face ao choque da Selic, elevada a 12,25% ao ano, com perspectiva de dois novos ajustes de um ponto percentual na taxa, como antecipado pelo Copom (Comitê de Política Monetária), foi frustrada a expectativa de que os juros futuros, em especial, na ponta curta, atingissem patamares mais elevados e uma redução na ponta longa.

Nem mesmo a perspectiva de ganho cambial, pela elevação da Selic, versus juros dos EUA, que poderia favorecer o fluxo de recursos para o Brasil, foi insuficiente para valorizar o real.

'Dominância fiscal' é a perda de eficácia da política monetária em cenário de desarranjo das contas públicas. Isso ocorre porque uma alta da Selic acaba elevando o gasto do governo com pagamento de juros da dívida pública, agravando a questão fiscal, deteriorando expectativas de mercado, afeta as condições financeiras, o que realimenta ainda mais a inflação, como 'efeito dominó' crescente.

Segundo especialistas, para cada ponto percentual de alta da Selic, o custo de rolagem da dívida pública cresce R$ 45 bilhões, considerando que esse patamar dos juros seja mantido ao longo de um ano.