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Goldman traça um 'quadro obscuro' para a economia

Por Marcello Sigwalt

Após a apresentação do 'pacotinho' (de cortes de despesas), sem que haja um ajuste fiscal de verdade, o risco é de o país se limitar a um PIB (Produto Interno Bruto) pífio de 1%, uma inflação de, no mínimo, 6% e um câmbio próximo a R$ 7.

A previsão sombria partiu do diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, contumaz observador crítico do dilema econômico do país, cujo epicentro é a incapacidade do Executivo de equilibrar suas contas.

Embora considere correta e necessária a adoção de um 'choque de juros' pelo Banco Central (BC), face ao recorrente problema fiscal e à uma economia superaquecida, Ramos entende que a política monetária estaria 'sozinha, remando contra a corrente'.

"Se a corrente for muito forte, o barco não anda. Pode desviar das pedras, mas fica quase uma missão impossível para o Banco Central com a política fiscal no Brasil", assinala o executivo, ao chamar de 'pacotinho' as medidas de cortes de gastos anunciadas, sem contar o fato de que as metas fiscais prometidas "já não condizem com a realidade da economia brasileira".

A consequência de tal cenário adverso é que uma elevação sistemática da Selic - cuja alíquota deverá subir para 14,25% ao ano nos próximos meses - se tornará ineficaz, caso o mandatário da República insista em manter uma política fiscal expansionista.

Sobre o desinteresse do investidor, reforçado após o anúncio do 'pacote de corte de juros', ele diz: "Dos poucos gringos que estavam interessados, alguns já estão jogando a toalha. Isso não é um bom sinal", arremata.

Para Ramos, "o problema número um, dois e três do Brasil hoje se chama fiscal. E há dois problemas: o déficit primário e a dinâmica da dívida, bastante alta e sobe de três a quatro pontos porcentuais por ano".