Incerteza econômica emperra a venda dos títulos públicos
Na 'raiz' da desconfiança do mercado, o descontrole dos gastos federais
Por Marcello Sigwalt
Na raiz das dificuldades do governo federal, de vender títulos da dívida pública - a despeito das taxas 'atrativas' oferecidas - está a desconfiança dos investidores em relação aos rumos da política econômica, o que eleva a cobrança do mercado quanto à adoção de medidas efetivas de controle de despesas pelo Planalto, que permanecem pendentes.
Em contraponto à posição oficial emanada pelo Tesouro Nacional, que nega a existência de uma 'crise de confiança' - sob o argumento de que a demanda pelos papéis continua 'consistente', em contraste com o estresse do mercado - a taxa de sucesso na venda dos papéis caiu de 77% em janeiro do ano passado para 52% em dezembro.
Como resultante, investidores têm exigido prêmios maiores (rendimentos mais altos) para injetar seus recursos aqui, a exemplo das sucessivas suspensões de leilões de títulos pelo Tesouro, em dezembro último, em razão da alta volatilidade do mercado.
No início deste ano, mesmo que o 'clima' entre os agentes financeiros parecesse 'mais ameno', os preços dos papéis se mantiveram 'nas alturas'. No único leilão realizado até agora, de títulos atrelados à inflação, a taxa média de venda chegou a 7,72%, com vencimento em cinco anos à frente, que não passava de 5,38%, há um ano. Como ilustração, basta dizer que, durante o governo Dilma, em 2015, a maior taxa chegou a 7,75%, referente a um papel com vencimento em quatro anos.
Como gasta mais do que arrecada, não resta outra alternativa ao Executivo, a não ser a venda de seus títulos, 'acenando' com prêmios (taxas) crescentes de retorno ao investidor, de modo a sustentar suas ações, mesmo que à custa do aumento do endividamento público. A falta de 'paradeiro' no déficit fiscal eleva a pressão dos investidores. O déficit nominal somou R$ 1,1 trilhão em 12 meses até novembro.