Por Marcello Sigwalt
Além de condições climáticas desfavoráveis, alterações no uso da terra - que direcionam a produção para cultura de exportação mais rentáveis no exterior - um dos fatores determinantes estaria relacionado à uma regra elementar da economia de oferta e demanda, uma vez que a produção no campo não está conseguindo acompanhar a demanda da população.
Entre os motivos para a maior velocidade da 'inflação dos alimentos', em relação ao índice inflacionário geral, a Carta do Ibre, artigo assinado pelo economista Luiz Guilherme Schymura, com a colaboração de pesquisadores do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getúlio Vargas) atesta que a inflação do grupo alimentos e bebidas subiu 7,25% no acumulado de 12 meses, acima do índice geral, que apresentou alta de 4,56%.
Sobre tal 'descolamento' de índices, o documento da FGV acentua que "entre 2012 e 2024, o item alimentação no domicílio teve alta de 162%, enquanto o IPCA geral elevou-se 109%". Segundo Schymura, aponta as mudanças climáticas como como maior responsável pelo 'descasamento entre a inflação dos alimentos e o índice geral as mudanças climáticas, com aumento de eventos extremos e maior imprevisibilidade meteorológica, que "provocam perturbações crescentes na oferta de commodities [mercadorias negociadas com preços internacionais] e produtos alimentícios, num processo que afeta diversas partes do globo e, de forma bastante nítida e relevante, o Brasil".
Para a publicação, "a alta dos alimentos no Brasil e no mundo é um processo que já tem quase duas décadas, com muitos e complexos fatores explicativos".
O documento avalia que a "expressiva desvalorização cambial", igualmente, possui 'parcela de culpa' no encarecimento dos alimentos. Com o real desvalorizado, exportar significa obter receita em dólar, mais lucrativo para o produtor.