Por: Karoline Cavalcante

Galípolo: Juros só caem com "reformas contínuas"

Para Galípolo, política de Trump acirra incertezas | Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (22) que a normalização da política monetária brasileira exigirá uma série de reformas contínuas. No entanto, segundo ele, muitas dessas mudanças podem estar “fora da alçada” da autoridade monetária. A declaração foi feita durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, em cumprimento ao cronograma de prestação de contas previsto pelo regimento interno da Casa.

Galípolo destacou que o cenário internacional tem sido o principal vetor na definição da dinâmica dos preços de mercado. Para ele, a intensificação da guerra tarifária conduzida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), tem provocado uma desaceleração da economia global — possibilidade já apontada no balanço de riscos divulgado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em janeiro.

Além das tarifas, o presidente do BC ressaltou a incerteza gerada pela falta de clareza sobre os desdobramentos dessas medidas, o que acaba adiando decisões de consumo e investimento. “Há uma incerteza sobre o que irá ocorrer. Quais tarifas, de fato, serão implementadas? Considerando inclusive as idas e vindas que temos observado. E, uma vez adotadas, quais os impactos sobre as cadeias produtivas?”, questionou.

Desaceleração

Segundo ele, essa instabilidade pode evoluir para um cenário de aversão ao risco. “Ou seja, uma escalada na disputa comercial que leve a uma desaceleração mais abrupta e intensa da atividade econômica. Em contextos assim, é comum que investidores busquem proteção em ativos mais líquidos e menos arriscados”, explicou.

“Historicamente, quando você tem um cenário de aversão de risco, o que você costuma fazer é correr para o dólar ou títulos soberanos norte-americanos. Como dessa vez o epicentro da crise está vindo da própria economia americana, é perceptível, entre os agentes econômicos, uma dúvida sobre para onde se deve procurar proteção no momento de aversão a risco”, completou.

Supersafra

Para o presidente da CAE, senador Renan Calheiros (MDB-AL), a supersafra vai ajudar, mas os preços dos alimentos não devem regredir com velocidade; mantendo uma situação peculiar.”Vamos muito bem segundo diversos indicadores macroeconômicos, a começar pelo crescimento do produto interno bruto [PIB], aumento da renda média das famílias e baixa taxa de desemprego. No entanto, paira o fantasma inflacionário”, afirmou o senador.

Em março deste ano, o Copom elevou a taxa Selic, a taxa básica de juros da economia, pela quinta vez consecutiva. O aumento foi de um ponto percentual, levando a taxa para 14,25% — o maior patamar desde outubro de 2016. O mercado financeiro já indica, inclusive, que novas altas são esperadas.

Galípolo comparou o papel do Banco Central, em momentos como este, ao de um “chato da festa”, que precisa agir para controlar os excessos. "Quando a festa está ficando muito aquecida e o pessoal está subindo em cima da mesa, tira a bebida da festa. Mas também quando o pessoal está querendo ir embora, você fala: 'Fica, esta chegando mais bebida, fiquem tranquilos, vai ter música, podem continuar na festa'. Então você tem esse papel meio chato de ser o cara que está sempre na contramão", exemplificou.