Mineiros, como JK, não são mais protagonistas da política

Ex-presidente faria 121 anos ontem, quando o estilo das Geraes de fazer política já não parece tão importante

Por Ana Paula Marques e Rudolfo Lago

Juscelino Kubitschek completaria ontem 121 anos. Para muitos, o fundador de Brasília foi o maior presidente da história. Um dos ícones do chamado estilo mineiro de fazer política, marcado pela moderação, discrição e pela capacidade de fazer acordos e de conciliação. Um estilo que parece esquecido atualmente. Com exceção do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, hoje há poucos políticos mineiros em evidência.

“Simpático, risonho, original”. Assim o compositor e humorista Juca Chaves resumia Juscelino Kubitschek na sua canção “Presidente Bossa Nova”. Considerado por muitos o melhor presidente da República da história do Brasil, JK, como era conhecido, faria ontem, 12 de setembro, 121 anos. Fundador da atual capital brasileira, Brasília, Juscelino é um dos principais exemplos do estilo mineiro de fazer política, que se caracteriza pela discrição, pela moderação e pela enorme capacidade de fazer alianças. Estilo que teve diversos importantes protagonistas ao longo da história, como Tancredo Neves, Magalhães Pinto e o próprio “patriarca da Independência”, José Bonifácio.

Galeria de Presidentes/Governo Federal - Ex-presidente Juscelino Kubitschek completaria 121 anos neste 12 de setembro

Hoje, quando a polarização política parece estimular discursos de ódio e violência como a vivida no lamentável dia 8 de janeiro, quando os três prédios principais da República foram invadidos e depredados, o estilo mineiro de fazer política parece relegado a segundo plano. Com exceção do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não há nenhum político mineiro de destaque atualmente no plano nacional.

Neto de Tancredo Neves, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) disputou as eleições presidenciais contra Dilma Rousseff em 2014, foi senador, governador de Minas e presidente da Câmara dos Deputados. Agora, Aécio é dono de uma das 53 cadeiras da Câmara que representam o estado, mas não se ouve muito falar dele.

Mineiros de renome

Tancredo Neves é outro nome que se reverbera quando se fala do protagonismo mineiro. Participou de momentos delicados na história do país, foi ministro da Justiça de Getúlio Vargas e foi eleito indiretamente presidente da República no episódio que deu fim à ditadura militar. Mas não conseguiu tomar posse, pois morreu antes de assumir.

O ex-Vice-presidente José Maria Alkmin, que participou da elaboração das constituições de 1934 e 1946, e tem como primo o atual vice Geraldo Alckmin e o ex-ministro da Justiça do general Castello Branco, Milton Campos são outros mineiros de destaque na história.

“Juscelino conseguiu unir o país, tanto pela construção da nova capital, quanto pelo grande desenvolvimento econômico realizado na época, além de conseguir segurar a disputa de diversos setores e fez tudo com uma leveza impar”, avalia o analista político Melillo Dinis.

Para Melillo, a derrocada da política mineira em termos de destaque no cenário nacional tem diversos fatores. O primeiro diz respeito à própria descentralização do país. No início do século passado, revezavam-se no poder políticos de Minas e de São Paulo. Era a chamada “política do café com leite”. Por conta mesmo da iniciativa de JK de transferir a capital do Rio de Janeiro para o interior do país, fundando Brasília, outras regiões que antes não tinham relevância começaram a crescer.

Isso, porém, não explica tudo. Até porque São Paulo continua com destaque. É a terra do atual vice-presidente. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora tenha nascido em Pernambuco, também fez sua trajetória política em São Paulo. O segundo fator, portanto, para Melillo, é a própria desimportância dos atuais políticos mineiros. “A nova geração não conseguiu manter esse legado”, observa. “Como é o caso de Aécio Neves, que após suas derrotas não conseguiu alavancar nenhum outro nome de influência”, disse.

Para o professor de Ciência politica do Centro Universitário - UDF, André Rosa, explica que o protagonismo mineiro surgiu em momentos de entrave para o país, nos quais a habilidade política prevaleceu.

Hoje, o deputado mais votado do país, Nikolas Ferreira, do PL, é de Minas Gerais. Mas, em vez da habilidade de conciliação, é conhecido por provocar adversários. Como quando subiu ao plenário com uma peruca loira para provocar suas colegas trans, Erika Hilton (Psol-SP) e Duda Salabert (PDT-MG). Outro mineiro, André Janones (Avante) também é conhecido pela sua agressividade.

Ontem, a Câmara dos Deputados, realizou um tributo aos 121 anos de nascimento de JK e também o marco dos 20 anos de outorgas das condecorações da Soberana Ordem do Mérito Empreendedor Juscelino Kubitschek. Na ocasião, primou e condecorou várias personalidades que possuem o "espírito de Juscelino Kubitschek".

Memorial JK - Juscelino Kubitschek completaria ontem 121 anos. Para muitos, o fundador de Brasília foi o maior presidente da história. Um dos ícones do chamado estilo mineiro de fazer política, marcado pela moderação, discrição e pela capacidade de fazer acordos e de conciliação. Um estilo que parece esquecido atualmente. Com exceção do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, hoje há poucos políticos mineiros em evidência.

 

Pedro França/Agência Senado - Termo de posse de Juscelino Kubitschek, que tomou posse em 31 de janeiro de 1956

Arquivo Nacional - Juscelino é cumprimentado por populares no dia de sua posse, no Rio, em 31 de janeiro de 1956

Arquivo/Folhapress - JK dirigindo um caminhão durante visita à fábrica da Mercedes, na década de 50

Arquivo Público do Distrito Federal/Novacap - Juscelino Kubitsheck e João Goulart na inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960