Moraes: 8/01 não foi 'domingo no parque'

Relator vota para condenar manifestante réu por 17 anos. Nunes Marques opta por pena mais branda. Julgamento prossegue hoje com posição dos demais ministros.

Por Gabriela Gallo e Murilo Adjuto

Alexandre de Moraes fala sobre o uso das redes sociais nas eleições

O Supremo Tribunal Federal (STF) segue o julgamento dos réus acusados de participar dos ataques à sede dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, em Brasília. A sessão, que é o primeiro julgamento dos réus no Supremo, começou nesta quarta-feira (13) e continua nesta quinta-feira (14) às 9h30. São julgados quatro réus: Aécio Lúcio Costa Pereira, Thiago de Assis Mathar, Matheus Lima de Carvalho Lázaro e Moacir José dos Santos, o único que está solto. Até o momento, julga-se somente Aécio Pereira. Moraes, relator do processo, votou por condená-lo a 17 anos de prisão e 100 dias multa.

Todos os réus são julgados pelos mesmos crimes: associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado, deterioração do patrimônio tombado e dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União.

O primeiro réu julgado é ex-funcionário da empresa de saneamento paulista Sabesp. Aécio Pereira, de 51 anos, é morador de Diadema (SP). Ele foi preso em flagrante no Senado Federal, mas também é acusado de ter depredado outros pontos. Em seu depoimento, ele negou ter participado do “quebra-quebra”. Os demais serão julgados nas próximas sessões.

Terraplanismo

Já no início do seu voto, Alexandre de Moraes reforçou a gravidade dos ataques. Após ser provocado pelo advogado do réu, o desembargador aposentado Sebastião Coelho, que disse que o julgamento era “político”, Moraes declarou que o "negacionismo obscuro" faz com que envolvidos, e seus advogados, tentem minimizar os atos golpistas.

"Às vezes, o terraplanismo e o negacionismo obscuro de algumas pessoas faz parecer que no dia 8 de janeiro tivemos um ‘domingo no parque’. Então, as pessoas vieram, as pessoas pegaram um ticket, pegaram uma fila assim como fazem no Hopi-Hari ou na Disney. 'Agora vamos invadir o Supremo, vamos quebrar uma coisinha aqui. Agora vamos invadir o Senado. Agora vamos invadir o Palácio do Planalto’. Como se fosse possível: 'Agora vamos orar da cadeira do presidente do Senado'. Presidente [Rosa Weber], é tão ridículo ouvir isso que a Ordem dos Advogados do Brasil não deveria permitir", disse Moraes.
Ele ainda defendeu a competência do Supremo para julgar a ação e disse que o plenário já tem 1.345 acórdãos, que é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais, reconhecendo a competência da Corte para o processamento e julgamento desta questão.

Nunes Marques

Depois de Moraes, votou o ministro Kassio Nunes Marques, que é o revisor das ações contra os réus. Nunes Marques também condenou Aécio, mas de forma branda. Em seu voto, ele declarou que não viu evidências suficientes para condenar o réu a todas as acusações. Ele considera que “apesar da gravidade dos atos de vandalismo”, as manifestações de 8 de janeiro “não tiveram alcance de consistir em uma tentativa de abolir o Estado de Direito”.

“Um grupo difuso e descoordenado de manifestantes não teria qualquer condição de atuar na concepção desse crime. A realização de atos de vandalismo com o objetivo de desencadear uma intervenção militar constituiu, segundo penso, um expediente completamente inapto ao alcance dos manifestantes”, pontuou o magistrado.

No entanto, Nunes Marques condenou Aécio pelos crimes de dano e deterioração do patrimônio tombado, condenando-o a dois anos e seis meses de prisão em regime aberto. “As fotos e vídeos por ele postados [nas redes sociais], demostram que ele aderiu aos manifestantes que ingressaram mediante violência no Congresso, concorrendo para os danos do patrimônio tombado”, disse o ministro.

A sessão acabou no voto Marques. Os demais magistrados irão proferir seus votos na sessão de hoje.