Lula deve falar de desigualdade e ambiente na ONU

Amanhã (20), Lula irá se encontrar com Zelensky pela primeira vez

Por Gabriela Gallo

Em Nova York, Lula tem agendas com autoridades, como o ex-Primeiro-Ministro do Reino Unido Gordon Brown

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizará, nesta terça-feira (19), o discurso de abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, na sede da ONU em Nova York (EUA). Como a tradição é que o Brasil abra o discurso de abertura, esta é a oitava vez que o petista abrirá a assembleia da ONU. A expectativa para o discurso é que ele enfatize a necessidade de uma reforma no sistema de governança global, abordando desigualdades e combate às mudanças climáticas.

Em entrevista no “Conversa com o Presidente”, Lula afirmou que não considera o atual modelo de governança global, que foi criado depois da Segunda Guerra Mundial, coerente com a geopolítica do século 21.

“O que a gente quer é criar novos mecanismos que tornem o mundo mais igual do ponto de vista das decisões políticas”, disse Lula. “Por exemplo, eu vou repetir a questão do Conselho de Segurança da ONU, os membros permanentes. Por que o Brasil não pode entrar? Por que a Índia não pode entrar? Por que a África do Sul não pode entrar? Por que não pode entrar a Alemanha? Quem é que disse que os mesmos países que foram colocados lá em 1945 continuem lá?”, questionou o presidente durante o programa.

Pacificação

Porém, em entrevista ao Correio da Manhã, o cientista político e pesquisador da Universidade de Helsinque (capital da Finlândia), Kleber Carrilho, analisa que, desta vez, Lula deve diminuir a temperatura de seu discurso.

“Eu acredito que o discurso do presidente vá ser um pouco menos enfático com relação aos temas que ele tem falado nos últimos tempos. Em vez de criar um outro ambiente de combate, não só de embate, mas de combate, como ele criou em alguns momentos, quanto À questão da guerra da Rússia com a Ucrânia, a questão da pressão sobre os países do Norte para valorizar os Brics, da relação com o acordo com a União Europeia. Eu acho que vai ser um discurso mais voltado a uma, ‘pacificação’ do que ele fez até agora. Isso porque ele já sentiu que o efeito de algumas falas um pouco mais enfáticas, pode se voltar contra ele”, disse Carrilho.

O cientista político cita falas anteriores polêmicas de Lula. Como posicionamentos que equipararam Rússia e Ucrânia quanto à guerra na Europa. Ou uma relação que fortaleça os Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – no contexto geopolítico internacional.

O pesquisador, que mora na Finalândia, afirmou que os discursos anteriores de Lula estão prejudicando a imagem dele na Europa. “Isso não quer dizer que o presidente Lula está preocupado com a Europa, mas sempre é interessante para ele manter essa imagem de estadista que ele foi buscar muito durante a campanha. E se ele cria essa briga neste momento, estar ao lado da China, dos países do sul global é muito interessante politicamente. Mas para consumo interno, inclusive, para uma parte importante da população brasileira, é essencial que o Lula seja esse líder que tem livre acesso aos países do norte, para a União Europeia, para os Estados Unidos”, destacou o cientista político.

Zelensky

Outra novidade na agenda do presidente desta semana é o encontro que ele finalmente terá com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O encontro está marcado para as 16h (horário de Brasília) desta quarta-feira (20) no hotel em que o presidente está hospedado.

Este será o primeiro encontro oficial entre os dois presidentes. Eles marcaram um encontro durante a cúpula do G7, em maio, mas não conseguiram se encontrar. Desde que assumiu, Lula defende que o Brasil possa pacificar o conflito entre os dois países, o que tem causado polêmicas, já que ele afirma que tanto a Rússia quanto a Ucrânia são responsáveis pela guerra.

Orientado por seus assessores a manter uma boa relação com Kiev e com Moscou, o Brasil tem adotado uma postura neutra em relação à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.