Por: Gabriela Gallo

Brasil tentará manter relações com Argentina, com qualquer resultado

Para analistas, Milei não conseguiria aprovar no Congresso mudanças radicais demais | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Daqui a menos de um mês, a Argentina vai decidir quem será o novo presidente do país em 2024. Os candidatos Sergio Massa e Javier Milei irão disputar o segundo turno, em 19 de novembro. Neste domingo (22), Massa teve 36,6% dos votos no primeiro turno e Milei teve 29,9% dos votos. Por enquanto, a corrida eleitoral aparenta cenário mais favorável para o candidato peronista, de esquerda. Ele fechou o primeiro turno na frente de seu adversário e deve receber o apoio de outros candidatos de centro-esquerda, o que estima uma expectativa de iniciar a disputa com cerca de 40% dos votos.

No entanto, os votos restantes vão vir da terceira candidata com maior número de votos, Patrícia Bullrich, de centro-direita, que teve 23,83% de votos. Como a posição dela e de seus eleitores segue incerta, os votos dos eleitores da candidata podem variar para qualquer um dos lados.

O atual governo federal tem relações com o candidato peronista e com seu grupo, do qual faz parte o atual presidente argentino, Alberto Fernandez. E nenhuma relação com o candidato de extrema-direita, Javier Milei que, ao contrário, promete como plataforma de campanha romper relações com o Brasil.

Após o resultado do primeiro turno das eleições, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, parabenizou Massa pelo número de votos eleitorais. Em compensação, o deputado federal e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), estava na Argentina no último final de semana para prestar apoio a Milei.

Relações Políticas

Mesmo que o governo brasileiro tenha a preferência por Sergio Massa, há chances de Milei ser eleito e prejudicar as relações entre os dois países. Porém, ao Correio da Manhã, o analista político e pesquisador da Universidade de Helsinque, Kleber Carrilho, considera que “mesmo em momentos de maior crise entre os países”, historicamente Brasil e Argentina mantiveram suas relações.

“É claro que durante algum tempo houve alguma dificuldade, principalmente no desenvolvimento do Mercosul, em que as duas economias são as mais importantes. Mas não temos [Brasil e Argentina] não tem um histórico de relações ruins”, destacou o analista político.

Carrilho ainda analisa que caso Milei seja eleito, o candidato de extrema direita dificilmente conseguirá de fato ver aprovadas as suas propostas mais radicais para a economia e as relações internacionais. Porque elas precisão ser aprovadas pelo Congresso argentino. “Eu acredito então que a tendência é que haja uma ‘tranquilização’ no discurso [de Milei], até para tentar fazer com que o governo sobreviva. Porque se ele for com essas ideias, dificilmente ele terá um governo longo. E se a gente olhar para a história recente da Argentina, ela é muito profícua em derrubar presidentes”, disse o pesquisador e cientista político.

O cientista político da BMJ Associados, Nicholas Borges, também considera que “a tendência é de que seja uma relação pragmática, apesar do eventual distanciamento político e ideológico entre Lula e Javier Milei”.

“Durante a gestão Bolsonaro-Alberto Fernández, vimos um cenário similar: dois presidentes distantes no espectro ideológico e político, mas ambos os países mantendo pragmatismo no âmbito econômico. Daniel Scioli era o rmbaixador da Argentina no Brasil e possuía uma ótima relação com Bolsonaro e é uma pessoa próxima a Fernández”, exemplificou Borges.

Relações econômicas

Independentemente de quem ganhar O cargo de presidente da Argentina, o mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Volgane Carvalho, reforçou que, economicamente, não é interessante um rompimento entre o Brasil e a Argentina já que eles “são os dois maiores parceiros comerciais da América do Sul e um dos maiores da América Latina”.

“Eles possuem relações bilaterais que são essenciais para as suas economias. A Argentina no meio de uma crise a com a hiperinflação, o desemprego, o empobrecimento da população, jamais poderia prescindir das suas relações comerciais com o Brasil. É muito improvável que essa ruptura realmente aconteça, principalmente porque haveria uma grande contradição, já que é um candidato que defende muito a liberdade, isso seria uma forma de intervir nas relações comerciais, relações privadas, que se estabelecem livremente entre os cidadãos dos dois países”, completou Carvalho.

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