Por: Gabriela Gallo e Rudolfo Lago

Em meio à guerra, sentimento de angústia é igual

Pessoas se manifestaram em apoio aos palestinos e aos israelenses neste domingo, 8 de outubro de 2023, na Times Square, em Nova York | Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress

Um conflito que pendura por décadas., mas que se agravou de forma muito preocupante no fim de semana. No sábado (7), o mundo se surpreendeu com a ação do grupo militar extremista Hamas que invadiu Israel, a partir da Faixa de Gaza. Logo, Israel também reagiu e oo menos 900 pessoas já morreram e pelo menos 100 pessoas (civis ou militares) foram capturados, segundo dados das Forças Armadas de Israel.

No mesmo dia do ataque, acontecia o festival de música eletrônica ‘Universo Paralello – Supernova’, nas proximidades da comunidade Re'im, a menos de 20 quilômetros da Faixa de Gaza. A festa foi organizada pelo pai do DJ brasileiro Alok, Juarez Petrillo, e reuniu um alto número de brasileiros e latino-americanos, que foram atacados no meio da festa. Segundo as autoridades israelenses, ao menos 260 pessoas que estavam no festival morreram.

Ao Correio da Manhã, o Pesquisador da Universidade de Helsinque, na Finlândia, Kleber Carrilho, enfatizou que não se deve pensar em culpados de um lado e vítimas do outro. As vítimas estão dos dois lados. O conflito que se iniciou no fim de semana é, aponta Carrilho, “uma briga de lideranças que estão sendo questionadas, tanto o Hamas quanto Netanyahu”, o primeiro-ministro de Israel.

“É um estresse que quem paga é a população”, avalia. “E são pessoas que em geral não têm muito a ver com isso. É muito importante a gente dividir o que é o estado de Israel e os israelenses. Os israelenses podem inclusive ser favoráveis à organização de um estado palestino reconhecido. E é muito complicado neste momento a gente não separar, achar que é uma briga entre times de futebol. Isso não pode ser”, disse o pesquisador e analista político internacional.

Quem sofre

A disputa entre Israel e Palestina já dura ao menos 75 anos, desde que o estado de Israel foi criado, no final de 1947 e início de 1948. É maior conflito da geopolítica contemporânea. E, independentemente de quem saia como “vitorioso”, quem sofre de verdade com essa guerra é a população dos dois países, quem ali mora e seus familiares ao redor do mundo.

É o caso do jornalista Sergio Lerrer, que tem três núcleos de primos próximos e diversos conhecidos que moram em Israel. Em entrevista ao Correio da Manhã, ele contou que, seus familiares estão bem porque as áreas em que eles estão não foram atingidas. “Foram protegidas de foguetes pelo sistema Domo de Ferro”,explica ele. O Domo de Ferro é um sistema de defesa antimíssil.

“Mas todos eles estão inseguros e intranquilos”, pondera Lerrer. “Não estão todos podendo trabalhar, porque algumas atividades estão fechadas. E estão preocupados porque sempre há amigos dos filhos, primos dos primos que ainda estão desaparecidos – ou que talvez já estejam mortos, ou capturados”, relatou o jornalista.

Lerrer explicou que, como Israel é um país pequeno, “às vezes alguns acontecimentos, como as bombas, mesmo que mais ao sul ou mais ao norte do país, geram atividade de sirenes e de recolhimento aos bunkers em todo o país”.

Ele ainda enfatizou que esse ataque foi uma surpresa, especialmente pela força bélica, para o país como um todo. “O israelense é muito pragmático, porque o país já nasceu sob conflito, o primeiro dia de vida do Estado do Israel foi uma guerra contra sete países. Então os israelenses, sejam aqueles que já nasceram lá, sejam aqueles que emigraram depois e viraram israelenses, estão acostumados a conviver com um certo nível de tensão e de acirramento eventual com um vizinho ou outro. No entanto, desta vez, foi algo de porte muito maior. Assustou. Então, trouxe um nível de insegurança que não ocorreu, mesmo em conflitos anteriores”, ele destacou.

Sergio Lerrer destacou pessimista que o sentimento é de angústia. Especialmente porque o grupo Hamas, e o governo de Israel, não parecem interessados em uma solução pacífica.

“Em vez de quererem autodeterminação dos seus povos, eles [Hamas] querem a extinção de Israel. Ou a extinção do caráter judaico de Israel. E, do outro lado, não existe manifestação por parte de quem está no conflito agora de que gostaria de ter os dois estados. Então, não tem como ter solução para acalmar o coração e a mente das pessoas, tanto do povo Palestino como também do povo israelense”, ele completou.

Palestinos

Os palestinos sofrem da mesma forma com o conflito. O presidente do Instituto Brasil Palestina (Ibraspal), Ahmed Shehada, tem quatro filhos, dois meninos e duas meninas, que moram na Faixa de Gaza. Em entrevista ao Correio da Manhã, ele contou que a região cortou toda a rede de comunicação e de energia elétrica.

“É muito difícil me comunicar com eles agora”, narra Shehada. “Bombardearam as casas ao redor deles e não se sabe se a casa deles foi também. Não tenho certeza, eles tiveram que sair de casa correndo e agora eles não voltam para casa, ficaram todos na mesma casa agora, eles e primos. E eles ainda me ligaram como se estivessem se despedindo, porque os bombardeiros chegaram até à casa foram se refugiar”, contou.

A secretária de Juventude da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Maynara Nafe, passa pela mesma angústia de Ahmed. Em entrevista ao Correio da Manhã, Maynara contou que tem 85% da sua família vivendo na Palestina, onde ela mesma nasceu, há 21 anos. “Tenho três tios na região e diversos primos, além de outros parentes”, disse Maynara.

Maynara tem parentes na Faixa de Gaza, onde se concentra o conflito, e também na Cisjordânia. “Na Cisjordânia, por enquanto, todos parecem seguros. Na Faixa de Gaza, porém, não há notícias”, narra ela. Segundo Maynara, há três dias não há luz na Faixa de Gaza, nem qualquer possibilidade de comunicação. “Ali, não sabemos se estão vivos ou não”.

Ahmed tem cidadania brasileira, mas os filhos têm a cidadania europeia. À reportagem, ele contou que tentou entrar com a cidadania brasileira com os filhos, numa última tentativa de tirá-los do local em segurança. “Eu mandei [os documentos] para a embaixada brasileira, porque eles já vão fazer evacuação para os cidadãos brasileiros, se é possível levar eles também para o Brasil. Espero que consigam, mas não sei agora. Estou muito preocupado pelo meu povo, minha pátria, mas muito mais também pela minha família, meus filhos. Fica o coração partido”, disse o palestino à reportagem.

E embora torça pela paz, Maynara teme pelo pior. “A verdade é que hoje estamos nos preparando para um massacre”, disse ela. “Hoje [ontem], chegaram dois aviões norte-americanos com armamentos. E Israel convocou dois mil reservistas. A nós, não é permitido ter um exército regular”.

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