Por: Pedro Sobreiro

Dos campos para a Crônica: Paulo Cézar Caju é o novo colunista do Correio da Manhã

O Correio da Manhã orgulhosamente dá as boas-vindas a Paulo Cézar Caju, um craque dentro e fora dos campos, que somará ao time de colunistas do jornal, com participações semanais, sempre às sextas-feiras, com estreia agendada já para a próxima, dia 10, para descontrair ainda mais o fim de semana do leitor. PC fez parte da eterna seleção do tri mundial, no México, em 1970, além de ter atuado nos quatro grandes do Rio — Botafogo, Fluminense, Flamengo e Vasco — Corinthians, Olympique de Marseille (França) California Surf (Estados Unidos) e Grêmio, clube no qual se aposentou dos gramados. | Foto: Reprodução

Por Pedro Sobreiro

A história do Correio da Manhã junto a Seleção Brasileira é gigantesca. Na década de 1950, após o trauma da derrota do Brasil para o Uruguai na Copa do Mundo disputada em casa, a Confederação Brasileira de Desportos fechou uma parceria com o Correio da Manhã, que promoveu o concurso que definiria o novo uniforme da Seleção Brasileira.

Desse concurso veio a icônica camisa verde e amarela com os calções azuis e meiões brancos. O resto é história. Duas décadas depois, o jornal voltou a fazer história na imprensa nacional, enviando a maior delegação de jornalistas da história do país, até então, para cobrir a Copa do Mundo de 1970, no México. E a partir daí foram dados os primeiros passos de uma inesperada parceria que vai se fortalecer a partir da próxima sexta-feira (10), com a estreia da coluna de Paulo Cézar Lima, mais conhecido como Paulo Cézar Caju.

Macaque in the trees
Paulo Cézar Caju integrou a 'Máquina Tricolor' | Foto: Reprodução

Se em 1970, PC brilhou nos gramados do México como o 12º jogador do técnico Zagallo, tendo suas jogadas registradas pela equipe do Correio da Manhã, agora é a vez dele trocar de lado e falar sobre o futebol jogado hoje, sempre com seu jeito característico, e sem papas na língua, para comentar sobre o esporte mais popular do planeta.

"Hoje em dia, há pessoas que não querem ouvir a verdade. Os caras querem que você minta, engane, enrole. Mas isso não é parte da minha cultura, não. Meus leitores, que já vêm desde o Jornal da Tarde, O Globo e da Placar, vão poder me acompanhar agora no Correio da Manhã", afirmou Paulo Cézar.

Macaque in the trees
O tricampeão mundial, Paulo Cézar Caju, visitou a redação do Correio da Manhã, no Rio, nesta segunda (10). Acompanhado da jornalista Jacyra Lucas, o ex-atleta (esquerda) bateu um papo com o coordenador de arte, botafoguense e maranhense, Adilson Nunes (direita) | Foto: CM

Campeão Brasileiro com o Botafogo, do Mundial com o Grêmio e Tricampeão do Mundo com a maior Seleção de todos os tempos, além de ter marcado época com a camisa dos quatro grandes do futebol carioca, a trajetória de Paulo Cézar não se resume ao Brasil. Ele foi um dos pioneiros no desbravamento do futebol francês, se tornando ídolo histórico do Olympique de Marselha.

Por sua relação com o clube e a cidade, Paulo recebeu, em 2016, a honraria máxima francesa: a medalha de cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra. E agora, com os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, ele espera que os laços entre Brasil e França continuem mais fortes do que nunca.

"São poucas as pessoas que foram condecoradas com essa honraria. Fui pioneiro no futebol francês, lá em 1974, e me tornei embaixador da minha cidade oficial, Marselha. Essa minha relação com a França já dura 46 anos", disse.

E fora dos campos, a vida de Paulo Cézar Lima teve desafios extremamente mais complicados do que as defesas adversárias. Ele se tornou voz ativa na luta contra o racismo, virando símbolo dos protestos pela igualdade racial. Além de uma luta pessoal contra o vício em cocaína e álcool. Uma batalha vencida há 25 anos.

"Tive uma grande carreira no Botafogo, Grêmio, Vasco, Flamengo e Fluminense, mas nem só de vitórias foi minha trajetória. Tive uma queda muito grande. Nos muitos anos que morei na Europa, fiquei viciado em cocaína e álcool. Foram quase 15 anos nessa luta, mas estou sóbrio desde 1998. Desde então, nunca mais bebi nem nada. São 25 anos que saí desses dois vícios. E tô muito contente com o início dessa nova parceria com o Correio da Manhã", contou o cronista.

Famoso por "falar o que tem que ser dito", Paulo Cézar se definiu como alguém que não suporta injustiças e "sacanagens", e que encontrou na escrita uma forma de falar contra os absurdos do esporte e do dia a dia.

"Fazer crônica é parte da minha natureza. Eu tenho horror a corrupção, horror a sacanagem, horror a bandidagem, roubo, mentira. Eu tenho horror a esse futebol medíocre que se está jogando no país. E eu sempre fui muito verdadeiro", afirmou.

Sua trajetória dos campos para os textos começou em São Paulo, no Jornal da Tarde.

"Quando eu comecei minha recuperação do vício, eu me mudei para São Paulo e fiz muitos amigos, o que é engraçado porque foi o estado em que eu fui mais vaiado como jogador, seja pelo Botafogo, pelo Fluminense, pelo Grêmio, pela Seleção Brasileira. Fosse em hotel, aeroporto, durante o anúncio dos jogadores nas escalações... Nunca vi ninguém me vaiar tanto quanto os paulistas. Mas quando me mudei pra lá, os paulistas começaram a me conhecer como ser humano. E aí, foi um dos lugares que mais adorei. Eu adoro São Paulo. A primeira proposta que recebi na crônica foi do Jornal da Tarde, o Luiz Prósperi, que era o redator-chefe, Robson Morelli, que hoje é redator do Estadão, e o Luís Monaco me convidaram. A coluna durou quase quatro anos em um jornal popular, que atingia aquela população enorme da metrópole. Quase 20 milhões de habitantes. Foi muito legal", lembrou.

Dali, quis o destino que ele usasse sua voz no Rio de Janeiro, onde escreveu para O Globo.

"Um amigo em comum no Rio, que era muito amigo do Ascânio Seleme, diretor de redação d'O Globo, me convidou para tomar um café no prédio do jornal e aí começou minha coluna no Rio de Janeiro, que também durou uns quatro anos. E aí, nesse supetão das saídas, o Ascânio saiu e depois de uma coluna de sucesso, que saía às segundas, eu tive um desentendimento com o novo diretor, aí tiraram minha coluna", contou.

Pérolas da Semana

Na revista Placar, Paulo emplacou um linguajar próprio que fez sucesso. Tratando o futebol da forma mais 'raíz' possível, ele lutou contra o tecnicismo que toma conta dos comentário esportivos atuais na coluna 'Pérolas da Semana'.

"Eu recebi um convite do Fabio Altman, da revista Placar, um diretor de redação maravilhoso. Por lá, eu criei um linguajar Geraldino na coluna 'Pérolas da Semana'. Como acabaram com o Maracanã, o transformaram em uma arena de tênis, com um bando de frescos torcendo e jogando, eu criei as 'Pérolas da Semana', debochando do linguajar de hoje. Por exemplo, fala-se muito em 'leitura de jogo', mas futebol não se lê. Você enxerga, você tem visão. Outro termo é a 'Ligação Direta'. Eu dizia que quando eu era garoto, os bandidos roubavam a gente sem meter faca ou revólver na nossa cara. Eles faziam a ligação direta e levavam nosso carro. Eu tirava sarro dessa porcaria de linguajar que não tem nada a ver com futebol. Foi sucesso também e aí começou a incomodar parte da imprensa e o novo grupo que assumiu a revista decidiu acabar com a minha coluna", disse.

Uma nova parceria

Agora, o Correio da Manhã orgulhosamente dá as boas-vindas a esse craque dentro e fora dos campos, que somará ao jornal com participações semanais em sua coluna, que estreará na edição da próxima sexta-feira (10).

"Surgiu essa nova luz. A Jacyra, junto a alguns outros amigos ligados ao Cláudio Magnavita e ao Marcos Salles, trouxe a chance de levar a minha coluna para o Correio da Manhã. Durante minha vida de jogador, eu passei a dormir em hotéis, que eram onde eu dormia e me alimentava bem. Foi nesse ambiente que passei a gostar de escrever sobre os jogos. Então, passei isso pra minha vida profissional de hoje. Eu realmente gosto de escrever. Faço rascunhos sobre todos os jogos, textos sobre o que acontece e o que não acontece, e gosto de criticar esse linguajar de hoje que não tem nada a ver com o futebol", contou.

"Eu tô supercontente de estrear no jornal que participou da maior conquista do futebol brasileiro, a Copa de 1970, com a conquista definitiva da Jules Rimet, quando eu tinha apenas 20 anos. Então, é um presente, com 74 anos, receber de novo essa oportunidade de escrever para um dos jornais mais importantes do país", concluiu o cronista.

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O Correio da Manhã orgulhosamente dá as boas-vindas a Paulo Cézar Caju, um craque dentro e fora dos campos, que somará ao time de colunistas do jornal, com participações semanais, sempre às sextas-feiras, com estreia agendada já para a próxima, dia 10, para descontrair ainda mais o fim de semana do leitor. PC fez parte da eterna seleção do tri mundial, no México, em 1970, além de ter atuado nos quatro grandes do Rio — Botafogo, Fluminense, Flamengo e Vasco — Corinthians, Olympique de Marseille (França) California Surf (Estados Unidos) e Grêmio, clube no qual se aposentou dos gramados. | Foto: Reprodução

Por fim, mas não menos importante, Paulo Cézar se consagrou como um dos grandes ídolos da história do Fluminense, que disputa a final mais importante de sua história neste sábado (4), no Maracanã. Entre memórias vitoriosas, ele relembrou da Máquina Tricolor e dos duelos históricos no Maracanã. Também disse se sentir parte desse estilo do técnico Fernando Diniz.

"Uma das coisas que carrego comigo foi nunca ter ganho a Libertadores. Eu fui campeão Mundial em 1983 com o Grêmio, mais um Mundial na carreira [risos], contra o Hamburgo, da Alemanha, mas cheguei após a conquista da Libertadores. Eu joguei duas semifinais de Campeonato Brasileiro no Maracanã com o Fluminense. Perdemos uma pro Internacional e perdemos outra, no ano seguinte, pro Corinthians, nos pênaltis. E nós éramos um time com tudo para conquistar o título, podendo vencer Libertadores e Mundial também. Tanto que até hoje se fala da 'Máquina Tricolor'. Então, eu me sinto um pouco parte dessa campanha atual do Fluminense, porque nós contribuímos para isso. O Fernando Diniz tenta resgatar o futebol que nós já praticávamos lá na 'Máquina', em 1975, 76 e 77", disse.

Para ele, o Tricolor tem plenas condições de levantar a Taça Libertadores, mas será necessário tomar cuidado.

"Sobre essa final, acho que é um jogo dificílimo. Se fosse o River Plate, seria menos complicado, tanto que o Fluminense passou por eles antes nessa Libertadores. Mas o Boca Juniors é um time encrenqueiro, catimbeiro, sabe? Eles vão provocar o time do Fluminense, que vai precisar ter muito equilíbrio. Isso é fundamental. Não pode ter ninguém expulso. É um jogo maravilhoso, que eu gostaria muito de jogar. O Fluminense vai ter que ser muito criativo, vai precisar ter muita paciência, não poderá cair nas provocações. E tem que aproveitar as chances que tiver. Porque se levar para os pênaltis, aí é loteria. O goleiro deles é muito bom. O Boca passou por quatro fases nos pênaltis, graças ao Romero. Acho que o Fluminense, se não perder o equilíbrio e não cair nas provocações dos jogadores do Boca, porque eles não têm nada a perder, pode vencer. Eles têm um time bom, mas não é nem perto dos melhores desses últimos dez anos do futebol argentino. O Fluminense tem que entrar com um time sereno. Os três setores precisam funcionar. Meio de campo, defesa e ataque precisam jogar em sincronia, e principalmente ter equilíbrio. Acho que o Fluminense tem todas as chances de ser campeão", concluiu.

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Em março deste ano, PC reencontrou o técnico Zagallo | Foto: Reprodução/ Instagram

 

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