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Cientistas do Ceará vão usar clonagem para tentar evitar extinção de veado-catingueiro

Veado-catingueira resgatado por pesquisadores do Inovafauna, no Ceará. Fêmeas serão fecundadas com embriões clonados em 2024 | Foto: Divulgação/ Inovafauna

Por Luany Galdeano (Folhapress)

Um projeto da Uece (Universidade Estadual do Ceará) quer clonar veados-catingueiros para conservar a espécie, hoje ameaçada de extinção. Denominado Inovafauna, o programa é dedicado à preservação da natureza no Ceará e engloba desde pesquisas técnicas, como a da clonagem, até ações para melhorar o habitat dos animais.

Os clones, ainda em estágio inicial, serão usados para tentar restaurar a presença do veado-catingueiro no meio ambiente. O projeto tem outras duas frentes de atuação: o desenvolvimento de planos que ajudam o estado a conservar a biodiversidade e um trabalho para incentivar o turismo de birdwatching (observação de pássaros) no Ceará.

O Inovafauna surgiu após o projeto de lista vermelha de espécies ameaçadas da fauna do estado, coordenado por Hugo Fernandes, professor de biologia da Uece. Em parceria com o governo, o professor e outros cientistas identificaram espécies em perigo de extinção, incluindo o veado-catingueiro e o tamanduá-bandeira.

A partir do diagnóstico, Fernandes se uniu a Vicente Freitas, professor de medicina veterinária da Uece, para construir novos projetos de conservação da biodiversidade do estado. Hoje o Inovafauna tem apoio financeiro da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Os embriões clonados já estão prontos, mas ainda não foram colocados em uma fêmea de veado-catingueiro para a gestação. Segundo Freitas, é uma etapa desafiadora por se tratarem de animais silvestres, mais difíceis de acessar do que os domésticos.

Segundo Freitas, a expectativa é que, ao longo de 2024, os pesquisadores transfiram os primeiros embriões para fêmeas, que servirão como uma espécie de "barriga de aluguel". É possível que o primeiro clone nasça no mesmo ano.

"É o momento de usarmos uma ferramenta como essa para evitar a extinção, que pode estar mais próxima do que se pensa", afirma.

A técnica usada é a mesma da ovelha Dolly, primeiro animal clonado na história. Na fecundação natural, a soma dos genes do macho e da fêmea permite formar um embrião. Na clonagem, o embrião tem material genético de apenas um indivíduo.

No Inovafauna, os cientistas usam uma célula do veado-catingueiro para fecundar os óvulos, que, na pesquisa, vêm principalmente das vacas. Por serem domésticas, elas estão disponíveis em maior número para os pesquisadores do que as espécies silvestres.

O núcleo do óvulo é removido para eliminar o material genético bovino e tornar o clone idêntico ao que doou a célula usada na fecundação.

Freitas cuida de um grupo de quatro veados-catingueiros, com um macho e três fêmeas. Eles chegaram à universidade por uma ONG que trabalha com animais resgatados do tráfico. Na época, o Ibama não tinha estrutura para cuidar de todos os veados, que foram levados ao pesquisador. As fêmeas são jovens e ainda não podem ter filhotes, mas os cientistas esperam fecundá-las quando possível.

Segundo Luciano Pinheiro, professor de zootecnia da Universidade Federal do Ceará, é preciso haver uma variabilidade genética para evitar cruzamento entre indivíduos com genes similares. Por isso, o ideal é que a população daquela espécie na natureza não esteja muito reduzida, em estágios graves de extinção.

"O acasalamento entre parentes pode gerar problemas reprodutivos, de imunidade e baixa sobrevivência de indivíduos", afirma. Ele diz que, para além da clonagem, projetos de conservação devem englobar outras iniciativas.

No caso do Inovafauna, há os planos de ação, desenvolvidos pelos pesquisadores para serem entregues ao governo do Ceará, com atribuições que podem ser tocadas pela gestão pública, pela iniciativa privada e pelo terceiro setor.

Alguns dos objetivos são diminuir a caça, reduzir a perda de habitat das espécies e elevar o número de unidades de conservação no estado. Os pesquisadores pensam estratégias para alcançar essas metas —por exemplo, monitorar animais ameaçados.

"O objetivo é otimizar recursos, para o governo saber bem o que fazer para garantir a proteção de cada uma das espécies de forma direcionada", diz o professor Hugo Fernandes.

Já no projeto de birdwatching, os cientistas produziram um documento com informações que podem ajudar o setor de turismo a investir na modalidade. Eles mapearam, por exemplo, espécies que provocam demanda de turistas e quais áreas do estado têm potencial para isso.

Segundo Tadeu Lavor, coordenador de Proteção Animal da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Ceará, os pesquisadores tocam o projeto com total autonomia. Ele diz que a iniciativa pode contribuir com planos de conservação por ser baseado em dados e evidências que ajudam a orientar as políticas.

"A técnica de reprodução dos veados-catingueiros é complicada e de longo prazo, mas não vejo como a fauna pode sobreviver sem interferência humana nesse sentido de biotecnologia."

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