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Dom Gregório Paixão se despede de Petrópolis

Na Cidade Imperial, Dom Gregório deixa o legado de um trabalho de amor e solidariedade e reformou a Catedral Imperial | Foto: Fotos Wellington Daniel

Por Wellington Daniel

O arcebispo Dom Gregório Paixão se despede da Diocese de Petrópolis (RJ) neste sábado (02). Agora, Gregório assume a Arquidiocese de Fortaleza, após a nomeação do Papa Francisco em outubro deste ano. Na Cidade Imperial, onde exerceu o episcopado, fica um legado de um trabalho de amor e solidariedade, reconhecido por diversas esferas e com uma forte atuação da Igreja no período das tragédias de 2022.

"O principal legado que eu deixo foi abrir meu coração para que eu pudesse ser amado por vocês. Foi isso que vivi, uma linda história de amor", resumiu o arcebispo sobre a sua passagem pela Cidade Imperial.

Nesta semana, Dom Gregório recebeu a equipe do grupo Correio da Manhã na Catedral São Pedro de Alcântara, um dos cartões postais de Petrópolis. Foi durante seu episcopado que a construção histórica recebeu sua primeira grande restauração, no valor de R$ 13,1 milhões, oriundos de um apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A Catedral no
coração do bispo

A imponência e os pequenos detalhes da Catedral encantam o arcebispo. Em 2015, três anos após sua chegada à cidade, escreveu o livro "A Catedral de Petrópolis: Santuário da memória da cidade de Petrópolis". A Igreja contém diversas obras de arte, de nomes nacionais e internacionais. Também guarda um mausoléu com os corpos do Imperador Dom Pedro II e sua esposa Teresa Cristina, além da filha Princesa Isabel e o genro, Conde d'Eu.

O arcebispo, que tem o amor como ponto central de sua pregação, lembra que muito do acervo da Catedral é proveniente deste sentimento, de pessoas que contribuíram não apenas tendo a arte como profissão, mas também pela fé.

"A Catedral de Petrópolis, seus vitrais e tudo aqui que foi construído aqui ao longo do tempo, é simplesmente uma prova de amor que virou joia para a nossa alegria e nossa contemplação", afirma.

Na recente reforma, também foram descobertas outras peças preciosas da Catedral, além de reencontrar com alguns já conhecidos. Dom Pedro II colocou uma caixinha de madeira, na pedra inaugural, moedas de ouro, prata e bronze cunhadas no Brasil desde a época de Dom João VI. A Princesa Isabel colocou uma cópia escrita pelo próprio punho da Lei do Ventre Livre. Nas portas, telhados e partes de pedras, quem participou da construção do monumento deixou sua marca. "A Catedral de Petrópolis tem os melhores artistas de sua época", afirmou.

Atuação na tragédia

Dom Gregório chegou a Petrópolis em dezembro de 2012, quase dois anos após a tragédia de janeiro de 2011 na Região Serrana do Rio, que deixou mais de 900 mortos. Dez anos depois, enfrentou as chuvas de fevereiro e março na Cidade Imperial, que vitimaram mais de 240 pessoas.

A Diocese de Petrópolis teve um trabalho de solidariedade e acolhimento das vítimas. Na Paróquia do Alto da Serra, famílias desabrigadas encontraram abrigo por semanas. Foi nesse período que uma fala do arcebispo também chamou a atenção: a síndrome do céu azul.

"Nós não podemos jamais ingressar numa síndrome do céu azul. Ou seja, depois que as nuvens vão embora e tudo fica bonito outra vez, a gente esquece do outro, dos excluídos, daqueles que estão com grandes dificuldades, pois moram nas periferias das nossas cidades", afirmou.

Dom Gregório recebeu a equipe em um dia com parte do céu azul e outra parte, com nuvens carregadas, o que o levou a ressaltar as mudanças climáticas. Para ele, o maior patrimônio são as pessoas e estudos precisam ser feitos para evitar novas tragédias. No entanto, os cuidados são de todos. É necessário olhar para os invisíveis da sociedade.

"Um dos pontos fundamentais que podemos desenvolver em nosso coração é tornar visível aos nossos olhos a presença do outro. Na sociedade, existem muitas pessoas que são invisíveis, portanto, precisamos observá-las. E, ao mesmo tempo, perceber pela própria natureza o que podemos fazer como ato de prevenção, para que nós não tenhamos uma tragédia como aquela", ressaltou o bispo.

Santidade

Para Dom Gregório, que também é monge, a santidade passa por escolher o bem. "Sobre o grau mais alto que o ser humano pode chegar, acho que temos que tomar da palavra de Jesus num lugar como esse. Ele disse: 'sedes santos como o Vosso Pai do céu é santo'. Ser santo é ter vivido o tempo todo escolhendo o bem", afirmou.

O retorno ao Nordeste

Dom Gregório nasceu em 3 de novembro de 1964 em Aracaju, no Sergipe. Seu primeiro episcopado foi desenvolvido na Bahia. Agora, na Arquidiocese de Fortaleza, o arcebispo estará mais próximo de casa e disse que pretende dar uma "fugidinha" para a casa da mãe e, sempre que possível, retornar a Petrópolis e a outras cidades que compõem a Diocese.

"A expectativa é a melhor possível, porque, afinal de contas, estou levando para aquelas pessoas tudo aquilo que colhi aqui e, naturalmente, poderei falar da beleza de tudo aquilo que aqui vivi", disse.

Apesar disso, a saudade do Rio de Janeiro estará presente no coração amoroso de Dom Gregório. "A saudade é a presença da ausência. Essa presença constante desse povo que me acolheu não como alguém que veio para Petrópolis, mas como filho. E é assim que me sinto, filho dessa terra", expressou.

A missa de despedida de Dom Gregório será neste sábado (02), às 9h, na Catedral São Pedro de Alcântara. No dia 15, o arcebispo toma posse na Arquidiocese de Fortaleza, em uma celebração, às 19h, na Catedral Metropolitana de Fortaleza.

O substituto de Dom Gregório em Petrópolis ainda não foi escolhido. No dia 18, o Conselho de Consultores deve se reunir e eleger um padre administrador diocesano. O próximo bispo da Diocese deve levar mais seis meses para ser nomeado pelo Papa Francisco.

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