Por: Gabriela Gallo

Lula otimista com acordo Mercosul/União Europeia

Lula com Olaf Scholz na Alemanha: pressão por acordo | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Depois da Conferência do Clima (COP 28), o presidente Lula (PT) se encontrou com o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, para reaproximar o Brasil e a Alemanha e reforçar acordos entre os dois países. O encontro ocorre após um hiato de oito anos. O presidente brasileiro chegou no domingo (3) e fica no país até esta terça-feira (5). Dente os assuntos discutidos na segunda-feira (4), está a meta de desmatamento zero até 2030 na Amazônia, investimentos no novo PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) e avanços econômicos.

Outro tópico que Lula conversou com a imprensa local se refere ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Lula pontuou que irá insistir para que a medida seja aprovada. A expectativa será tratada na cúpula de líderes do Mercosul, marcada para esta quinta-feira (7) no Rio de Janeiro.

“Reiterei ao chanceler [alemão] a expectativa de que a União Europeia decida se tem interesse ou não de um acordo fragmentado. No contexto de fragmentação geopolítica, a aproximação entre nossas regiões é central para a construção de um mundo multipolar e o fortalecimento do multilateralismo”, disse o presidente.

França contra

O acordo de livre comércio entre os dois grupos, que começou a ser negociado em 1999, apresentou um entrave após o presidente da França, Emanuel Macron, declarar posicionamento contrário, neste sábado. Durante a COP 28, ele declarou para jornalistas que considera o acordo contraditório e antiquado. A posição do presidente francês vai contra a expectativa do governo brasileiro, que esperava concluir as negociações antes da cerimônia de posse do novo presidente argentino, Javier Milei, no próximo domingo (10). Milei também se posiciona contrário ao acordo.

A reportagem conversou com o pesquisador da Universidade de Helsinque, capital da Finlândia, Kleber Carrilho. Ele considera que esse conflito entre Brasil e França seja um reflexo de momentos anteriores entre os dois presidentes, “principalmente quando Lula foi no início do ano a Paris e fez uma cobrança bastante veemente sobre as questões ambientais e a responsabilidade histórica da Europa”.

“Essa é a posição do Macron, mas o Macron também não tem sido visto como uma liderança muito estável no ambiente europeu. Então, precisamos entender o que o Scholz está pensando e a [Ursula] von der Leyen [presidente da Comissão Europeia], porque a Alemanha hoje é a principal economia da Europa. Então, a gente tem que ver até que ponto o Macron não está tentando ganhar um destaque no ambiente europeu a partir dessa briga também”, pontuou o cientista político. Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28, Ursula Von der Leyen mostrou-se mais favorável ao acordo.

O analista ainda pontuou as resistências da França devido à sua produção agrícola. “A França depende de uma produção agrícola que tem muita proteção. A Alemanha não depende tanto, a Alemanha depende da indústria, mas a produção agrícola francesa depende dessa subvenção, que teria problemas num acordo com o Mercosul. E o Macron teria como bancar isso”, explicou Carrilho.

Ele reforçou que “a União Europeia não é uma unicidade”, o que pode dificultar a aprovação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, devido a conflito de interesse entre os países.

Conselho de Segurança

Durante o discurso na Alemanha, Lula também criticou a atuação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), na atuação das guerras entre Israel e o grupo Hamas e entre a Rússia e a Ucrânia. Para o presidente, a atual gestão do Conselho não está levando em consideração a paz.

“Tudo isso acontece porque a ONU não está cumprindo com o papel histórico pela qual ela foi criada. Esses países deveriam zelar para manter a paz no mundo. Entretanto, são esses os países que mais produzem armas, os que mais vendem armas e fazem guerras sem passar por decisão do Conselho de Segurança”, criticou o presidente.

Lula deve levar para pauta da próxima reunião do Conselho de Segurança da ONU se a atual gestão não deveria tomar outros posicionamentos. Atualmente, o Brasil é o país que preside a organização.

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