A cerimônia de posse do novo presidente da Argentina, Javier Milei, está marcada para este domingo (10), em Buenos Aires. A cerimônia vai seguir o padrão dos Estados Unidos, no qual o presidente argentino discursará nos degraus do Congresso, simulando os presidentes norte-americanos no Capitólio. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não confirmou se estará presente na posse ou não.
Milei e Lula trocaram farpas e insultos durante todo o período eleitoral argentino. Durante a campanha, o argentino chamou Lula de “corrupto”, “comunista” e que não se encontraria com o brasileiro caso fosse eleito.
No entanto, voltou atrás do posicionamento, adotando um discurso bem mais brando após a eleição. Na semana passada, a futura chanceler argentina, Diana Montino, fez uma visita surpresa ao ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, com uma carta de Javier Milei convidando Lula para sua posse. No documento, o argentino alega que essa pode ser uma boa oportunidade para os dois países “construírem laços” por suas gestões de posicionamentos contrários.
Consciência
“Esse movimento de aproximação do Milei demonstra que a Argentina tem consciência de que precisa dessa relação com o Brasil para se manter forte no bloco sul-americano”, disse ao Correio da Manhã a advogada especialista em Direito Internacional Público, Hanna Gomes.
Diplomatas brasileiros e argentinos reforçam que a presença do brasileiro na cerimônia de posse do representante ultraliberal do partido La Libertad Avanza (LLA) é importante, para não enfraquecer as relações entre os dois países. No entanto, aliados de Lula aconselham o petista a não comparecer ao evento, para que ele não seja exposto a eventuais constrangimentos.
Hanna Gomes, considera que a ida de Lula à posse “não gera nenhum compromisso e nenhuma aderência às ideias, à política da extrema direita dessa nova Argentina que está por vir”. Seria uma visita de chefe de Estado. Portanto, a presença dele não representa que ele concorde com as ideias ultraliberais de Milei, mas que ele está disposto a manter relações diplomáticas entre os países.
Ela ainda reiterou que a presença de Lula na posse de Milei “representa um movimento político muito mais saudável para as relações sul-americanas e para a relação Brasil-Argentina”.
“Ao não ir, estaria colocando mais um tijolo na relação pouco amistosa que essas duas partes já apresentavam durante o pleito eleitoral. Então, acredito que, apesar da ausência de diplomacia prévia às eleições, esse movimento do presidente Milei em dizer que [Lula] será bem-vindo se vier à posse, faz com que Lula seja praticamente obrigado também publicamente a comparecer para que não gere essa rusga desnecessária”, pontuou Hanna Gomes.
Bolsonaro
A eleição de Javier Milei é uma vitória também do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da extrema-direita do continente sul-americano. Bolsonaro foi convidado pessoalmente por Milei em ligação telefônica para ir à posse. E confirmou sua presença.
Bolsonaro irá a Buenos Aires com sua esposa Michelle, parlamentares e governadores, que formarão uma "caravana da direita" para mostrar força política. Esse prestígio a Bolsonaro é uma das questões que Lula considera quanto a ir ou não à posse.
