A reunião da Cúpula do Mercosul realizada no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (6), inflou o clima de frustração do governo sobre a expectativa de acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia. Mesmo após o presidente da França, Emmanuel Macron, declarar voto contrário ao acordo e da resistência da Argentina de aderir à ideia, ainda existia a expectativa de que o acordo fosse fechado neste ano. A escalada do conflito entre a Venezuela e a Guiana, porém, indica que a reunião de líderes, nesta quinta-feira (7), acabe enveredando para os riscos da tensão no continente, deixando, então, completamente de lado a discussão sobre o acordo.
Na quarta-feira (6), a cúpula reuniu os ministros das áreas econômicas e de Relações Internacionais dos países integrantes do bloco. Porém, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não compareceu à reunião, assim como o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, o que intensifica a “derrota” em torno do acordo entre os blocos econômicos. Estavam no Rio os ministros de Relações Exteriores, Mauro Vieira; do Planejamento, Simone Tebet, e o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin.
Em nota, o Ministério da Fazenda brasileiro informou que Haddad ficou na sede da pasta, em Brasília, para se “dedicar aos temas da agenda econômica ainda pendentes no Congresso Nacional”.
A estratégia brasileira era defender publicamente o acordo entre os blocos econômicos na reunião desta quarta-feira (6) e na quinta-feira (7), quando a cúpula se reúne com os Chefes de Estado do Mercosul. O presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, passará o comando do Mercosul para o Paraguai e já havia mencionado o desejo de fechar o acordo entre os blocos quando assumiu o comando temporário da cúpula há 6 meses.
Nada de acordo
Já são ao todo 23 anos de negociações e para tentar chegar a uma conclusão positiva, a estratégia da diplomacia brasileira é aproveitar a Cúpula do Mercosul para fazer uma defesa pública do acordo. Porém, o possível conflito entre Venezuela e Guiana deve tomar protagonismo durante a reunião do bloco.
A crescente do conflito preocupa o Executivo — já que os dois países fazem fronteira com o Brasil — e por isso, na quarta-feira, o presidente Lula convocou uma reunião emergencial com o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e com o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim. A estratégia é não envolver o Brasil no conflito e buscar uma resolução pacífica entre os países.
Segundo o analista político internacional Kleber Carrilho, além das questões territoriais entre Venezuela e Guiana, um dos principais entraves do acordo são as questões internas dos blocos.
“Principalmente, a França e Alemanha têm interesses diferentes. Para a França, seria um problema muito sério abrir a possibilidade de produtos agrícolas chegarem sem a devida proteção da própria agricultura e produção agrícola francesa. Enquanto a Alemanha, pelo contrário, gostaria muito de abrir ainda mais os mercados para a América do Sul”, explica.
Para Carrilho, o acordo não deve sair do papel por questões internas da União Europeia. E, no caso da América do Sul, a discussão pode acabar encoberta pelo risco de conflito entre a Venezuela e a Guiana.
Essequibo
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, decidiu no último domingo pela anexação de Essequibo – um território rico em petróleo que ocupa cerca de dois terços da Guiana. A anexação foi tema de um plebiscito entre a população da Venezuela. O país sofre uma intensa crise econômica nos últimos anos.
A região de Essequibo tem uma área de 160 mil quilômetros quadrados. Tem reservas de petróleo equivalentes a 11 bilhões de barris, marca que hoje a tornaria um dos 20 principais produtores de petróleo no mundo.
A Venezuela argumenta que o território faz parte do país desde a independência da Espanha, há 200 anos. Já a Guiana defende que Essequibo foi colocada sob domínio da então Guiana Britânica no final do século 19, mantendo-se parte do país após sua independência.