Por: Ana Paula Marques

Venezuela e Guiana ocupam discussões do Mercosul

A tensão na Venezuela preocupa os líderes do Mercosul; presidentes acenam para foto em frente ao Museu do Amanhã | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

As atenções dos chefes de Estado na reunião da Cúpula do Mercosul nesta quinta-feira (7) ficaram voltadas para o conflito entre Venezuela e Guiana que vem se agravando nos últimos dias. Ao discursar na abertura da 68ª reunião de líderes da cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou preocupação com a crise entre os dois países e declarou que o Mercosul “não pode ficar alheio a essa situação de Essequibo”.

Essequibo é a região da Guiana que a Venezuela reivindica. No último fim de semana, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez um plebiscito que aprovou a anexação da área, altamente rica em petróleo, que corresponde a 70% do território da Guiana.

“Coisa que não queremos na América do Sul é guerra. Não precisamos de guerra, de conflito. Precisamos construir a paz. Só assim poderemos melhorar nosso país”, disse Lula.

O presidente brasileiro também sugeriu ainda que a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) sejam as instâncias diplomáticas usadas para intermediar a tensão entre os dois países. Lula pediu aos chefes de Estado do Mercosul — Argentina, Paraguai, Uruguai e a Bolívia, que está em processo de adesão — que concordassem com uma declaração conjunta para reafirmar a região de Essequibo como uma zona pacífica e de cooperação.

Desafio

O Brasil tem buscado se mostrar como um líder na diplomacia. E nem sempre tem obtivo sucesso total nesse intento. Neste primeiro ano de mandato, o presidente Lula fez um giro internacional, onde assinou diversos acordos bilaterais e buscou investimentos para os projetos brasileiros. Ao expressar interesse na política externa, segundo o analista político André Pereira César, Lula tenta realocar o Brasil como uma forte liderança mundial. Nesse sentido, o conflito com a Venezuela é um grande desafio.

“A diplomacia brasileira deve tentar agora reverter esse quadro de conflito na America do Sul — entre Venezuela e Guiana — e usar isso para mostrar aos países da União Europeia que tem poder de conciliador, que pode fechar acordos importantes e evitar desastres. O que levaria uma imagem positiva e até poderia acelerar um possível acordo entre Mercosul e outros blocos”, explica.

Para o analista político, já houve uma frustração com a não assinatura do acordo do Mercosul com a União Europeia, “tão enfatizado e esperado” pelo presidente.

Tensão

Apesar de não ter uma previsão para se concretizar o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE), os dois blocos divulgaram uma nota conjunta em que afirmam estar engajados na conclusão do acordo comercial que está em negociação há mais de 20 anos.

“Nos últimos meses, registraram-se avanços consideráveis. As negociações prosseguem com a ambição de concluir o processo e alcançar um acordo que seja mutuamente benéfico para ambas as regiões e que atenda às demandas e aspirações das respectivas sociedades”, descreve a nota.

Mesmo com a declaração contrária ao acordo do presidente da França, Emmanuel Macron, que frustrou o Executivo brasileiro, Lula foi atrás de garantir o apoio da Alemanha — um dos países mais influentes do bloco europeu. Depois da visita, o presidente Lula disse que ainda tinha esperança. Para ser aprovado um acordo entre blocos, todos os membros precisam dar seus votos favoráveis.

O acordo tem sido buscado pelo presidente Lula desde que ele assumiu a presidência temporária da cúpula, há seis meses. Na reunião desta quinta-feira, o comando do Bloco foi passado para o Paraguai.

Singapura

Sem o acordo com a União Europeia, o principal documento assinado foi um acordo de livre comércio entre o Mercosul e Singapura, primeiro acordo feito com o bloco e um país asiático.

Singapura é o oitavo maior destino das exportações brasileiras. Ano passado, o país ficou na sétima posição, com US$ 8,4 bilhões. Já neste ano, o Brasil exportou US$ 7,1 bilhões para Singapura, colocando a cidade-estado na oitava posição entre os principais destinos das exportações nacionais.

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