O papel da escola na proteção ao aluno e na formação cidadã
Correio da Manhã organiza seminário sobre segurança escolar e bullying
O mundo escolar não fica apenas no âmbito da unidade de ensino, muito menos é restrito a alunos, professores e diretores. Pais também fazem parte deste conceito, assim como outros segmentos da sociedade, como a segurança pública, a cultura e outros. Pensando nisso, o Correio da Manhã, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação do Ri, promoveu o seminário "Conexão Educação Rio", para debater os projetos realizados pela pasta ao longo do ano e as perspectivas para 2024, naquilo que pode melhorar na rede de ensino estadual. O evento contou com a participação de vários diretores e secretários de diversos municípios fluminenses, além de membros do Comitê Intersetorial de Segurança Escolar. Além disso, serviu para distribuir a cartilha de segurança elaborada pelo comitê, a partir de informações enviadas pela comunidade escolar das 92 cidades do estado, para ajudar professores, diretores e coordenadores as suas responsabilidades, bem como dicas de melhorar a relação entre os alunos, especialmente na questão do bullying.
Na abertura, a secretária estadual, Roberta Barreto, destacou o papel da imprensa como área formadora de opinião.
"O jornal, para ser direito, precisa entender os anseios e argumentos da da população, a fim de contribuir ainda mais para fomentar uma opinião pública. E a mídia tem um papel importante na comunicação e na disseminação de conteúdo", ressaltou Roberta.
O presidente do grupo Correio da Manhã, Marcos Salles, comentou o poder da palavra da imprensa na sociedade.
"Realizar esta evento com a secretaria é muito importante porque a palavra é importante em nosso meio e a comunicação é uma ferramenta que auxilia no no processo de aprendizagem", disse Salles.
Palestras
Abrindo o ciclo de palestras a professora Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP, que falou sobre: "A Escola como um ambiente de segurança e bem-estar para superação das violências". Num resumo, a professora ressaltou que não apenas a presença de agentes de segurança nas escolas podem diminuir a violência no ambiente de ensino, mas também uma melhor disseminação das ideias e conjuntos de convívio social e de normas e regras.
Luciene argumentou que a escola é um lugar seguro, onde se prega valores de respeito e justiça, fazendo o conceito de cidadania ficar ainda mais rico. Porém, o grande problema está na relação entre os alunos e entre os pais e a equipe escolar, para tentar entender o que se passa na cabeça da criança e buscar uma solução para os problemas dentro e fora da sala de aula.
Para reforçar sua teoria, ela mostrou algumas pesquisas feitas com estudantes em São Paulo. A primeira delas, com 900 mil alunos 20% já sofreram algum tipo de provocação de colegas de classe, 15% foram agredidos ou maltratados e 25% sentem medo. A segunda, feita com adolescentes, 85% nunca tiveram pensamentos em se mutilar em caso de depressão, 10% poucas vezes, 3% muitas vezes e 2% sempre. Já nos casos de suicídio, 79% nunca pensaram em se matar, 13% já tiveram algum pensamento, 5% quase sempre e 3% frequentemente.
A terceira pesquisa, feita com crianças, 89% nunca pensaram em se mutilar, 10% já tiveram algum pensamento e 1% sempre tem quando é maltratada.
A professora reforça que a família tem o poder de educar, mas que ela também é um reflexo da sociedade, pois a criança, muitas das vezes, acaba agindo e reagindo conforme os pais. Por isso, a escola não é apenas um lugar de educar e vira um local de organizar a informação que a criança recebe de casa e que ela vê no dia a dia.
"Se eu brigar com meu irmão, ele não deixará de ser meu irmão. Mas se eu brigar com um colega, ele pode deixar de falar comigo. Por isso que a função da escola é de formar e contribuir na formação do aluno, reparando seus erros", afirma Luciene.
Reforçando sua fala, a professora mostrou outra pesquisa, do Pisa, onde os dados no Brasil são abaixo da média mundial. Por exemplo quanto 76% dos estudantes conseguem fazer amigos na escola na média global, 70% conseguem no Brasil. No mundo, 17% dos alunos se "sentem estranhos", em sala de aula. No Brasil, 19%. E os que se sentem solitários, 16% no mundo e 27% no Brasil.
Com isso, ela considera que ninguém nega uma intervenção na segurança escolar, com a presença de policiais no ambiente. Porém, elas não serão a única solução para melhorar o bem-estar na rede de ensino, pois há outras necessidades que precisam ser aprimoradas para ajudar o policial a obter êxito na sua função.
"A crença que aprendemos em casa nos servem de exemplo, pois obedecemos nossos pais, mas a escola é um conjunto de regras que deve ser trabalho com todos, para ter uma autorregulação das normas e condutas em sala de aula", finaliza Luciene.
Bullying
A segunda palestra foi de Benjamim Horta, pedagogo e filósofo: "Bullying no ambiente virtual - cyberbullying", sobre como diferençar agressão verbal de bullying e como se deve agir para coibir esse tipo de conduta.
A primeira questão citada por Benjamim foi de como podemos utilizar a internet, pois ela é uma ferramenta que, dependendo da forma como utilizamos, pode ser boa ou ruim.
"A tecnologia maximiza os problemas, pois a propagação de uma informação no ambiente virtual se propaga mais rapidamente, por isso, as pessoas precisam saber como utilizá-la", disse o pedagogo.
Segundo ele, um dos maiores problemas hoje parte do princípio básico de saber o que é bullying e como agir para a questão não ganhar grandes proporções.
"Detectar grupos em salas de aula pode solucionar o problema no virtual, mas uma intervenção não resolve o caso em si, só em curto prazo.
Ele precisa ser acompanhado para ver uma mudança de comportamento do possível agressor a da possível vítima", ressaltou Benjamim.
Para ilustrar ainda mais a questão de viver com as diferenças e aprender a conviver com o outro, ele deu o exemplo de uma fábula do porco espinho, de Schopenhauer. Nela, os porcos espinhos, para sobreviver no inverno, tinham que ficar juntos, mas os espinhos atrapalhavam a união, fazendo-os se unirem e se afastarem, até que, em um breve momento, resolvem se unir, se acostumando com os espinhos dos outros, para sobreviverem.
No encerramento, a juíza Vanessa Cavalieri, Titular da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, destacou o papel da justiça na questão.
"A escola não é mais lugar só de ensino e a justiça não pode mais ser apenas punitivista, ela precisa ser de restauração também", disse Vanessa.
No fim, a secretária Roberta Barreto comentou um pouco sobre o evento.
"O evento democratiza uma discussão que é pujante na escola e quando um veículo de comunicação encara o tema, ele, intrinsicamente, demostra a importância dele para a sociedade. Ano que vem teremos uma equipe socio-emocional, para fazer um trabalho de acolhimento e de formação aos professores e todos os membros da comunidade escolar, para ajudar nessa questão do bullying", disse Roberta, que fez um breve resumo do que é o comitê:
"O Comitê Intersetorial de Segurança Escolar, que tem 32 membros, foi criado no início do ano, depois da tragédia em Blumenau, para melhorar a segurança nas escolas e garantir uma sensação de paz. Ele é composto de membros da segurança pública e de órgãos e secretarias estaduais", finalizou a secretária.